Ordem do tempo
“Somos os responsáveis e as vítimas da democracia que construímos”
1.Vacinas para quem? Segundo consta, os chamados países pobres terão o acesso a esta terapia muito alongado no tempo, com todos os riscos sanitários, que quem domina a matéria saberá explicar melhor. Se o que enfrentamos é reconhecidamente uma pandemia global, então a resposta ao seu combate não deveria ela também ser global? E considerando as interdependências entre os diversos países, quando a sobrevivência da humanidade depende tanto da proximidade, cooperação e entreajuda, - veja-se o exemplo de partilha na investigação que deu origem à produção das vacinas contra a covid 19! - ao leigo fará todo o sentido dever ser igualmente global e simultânea, a distribuição das ditas, considerando todos os aspetos logísticos envolvidos em tal processo.
Ao simples cidadão afigura-se desde logo ser esta mais uma desigualdade do ponto de vista dos direitos humanos… E bem alerta o SG da ONU, o português António Guterres! Mais uma vez, em causa estão valores universais de solidariedade, igualdade, justiça e ética. E a salvaguarda da vida, a que se deveriam submeter outros valores mais materiais, os habituais argumentos negociais (?) de países ricos… Ou a o lado negro da natureza humana, com os costumeiros desrespeito, abusos e atropelos à ordem das prioridades de vacinação superiormente escalonadas, pelo egoísmo dos chicos espertos que subvertendo as regras, sempre furam a fila e passam à frente dos outros.
2. Eleições e democracia
Dos processos eleitorais se espera que sejam capazes de proceder à escolha periódica, livre, responsável e consciente dos cidadãos mais capazes de liderar o interesse geral das populações. Muitos terão sido os que, mesmo não residindo nos Estados Unidos, respiraram de algum alívio, com a eleição e posterior tomada de posse do presidente Joe Biden, da mesma maneira que assistiram incrédulos aos desmandos do anterior presidente, neste país desde 1776 considerado um farol da democracia moderna. Um sistema político reconhecidamente eivado de falhas e imperfeições, mas dinâmico, repousando na confiança nas instituições e no respeito por todos os cidadãos. Por cá, mesmo assustados com a pandemia, tivemos também a recente eleição para a presidência da república, que ditou no todo nacional, a já esperada vitória da recandidatura dos afetos. Nesta região autónoma, curioso, o segundo lugar do escrutínio foi atribuído ao candidato que, entre outras polémicas, assumia sem rebuço, não querer ser presidente de todos os portugueses… Pelos vistos, teve a concordância de muitos… Relembra-se a este respeito, o nosso saudoso pensador Eduardo Lourenço: “Somos os responsáveis e as vítimas da democracia que construímos.”