Efeitos da crise pandémica
O momento atual mostrou fragilidades e não deixará ninguém de fora
A pandemia da covid -19 está a provocar uma crise global de consequências imprevisíveis, interferindo e destruindo o frágil equilíbrio entre o setor da saúde e o da economia, com consequências nefastas no âmbito laboral e social prejudicando os mais necessitados e vulneráveis.
As medidas adotadas na última década, nomeadamente o crónico subfinanciamento da saúde, as restrições na admissão de profissionais, o desajustamento de instalações e equipamentos, medidas governamentais limitadas no tempo, por vezes confusas e contraditórias, conduziram às atuais dificuldades que os serviços têm na resposta organizada às excecionais necessidades em cuidados de saúde em tempo de pandemia.
Atendendo à dimensão do surto pandémico que ultrapassa fronteiras, considerando a finitude de recursos e as marcas indeléveis que o atual quadro pandémico evidenciará na sociedade nos anos vindouros, as entidades governamentais não podem perder a oportunidade de apostar definitivamente em serviços de saúde robustos e resilientes, com dotações em recursos materiais e humanos que respondam eficazmente no futuro a situações como a que estamos a atravessar.
O momento atual mostrou fragilidades e não deixará ninguém de fora, estamos perante uma crise diferente da crise que ocorreu em 2008 que afetou as atividades mais frágeis ligadas ao setor financeiro. Como em qualquer crise os impactos diferem nos vários setores, a atual situação atinge com maior incidência o setor produtivo, o turismo a restauração e a área dos serviços. Setores de atividade caracterizados por elevados níveis de precariedade laboral, que torna mais difícil a viabilização de apoios financeiros tendo por objetivo a recuperação económica.
Mais de um ano após o aparecimento do atual surto pandémico, o mundo continua a assistir a milhares de mortos e ao encerramento de muitas empresas independentemente da sua dimensão, à destruição de milhares de postos de trabalho, alterando vivências e rotinas, aumentando a pobreza e acentuando as desigualdades laborais e de género.
O atual contexto de pandemia veio relevar a importância de continuar a debater e a aprofundar a temática sobre o futuro do trabalho, num processo desencadeado ao longo dos últimos anos pela Organização Internacional do Trabalho.
As novas tecnologias e as plataformas digitais no atual contexto de crise passaram a fazer parte da rotina diária, podendo acentuar a desvalorização do trabalho. O teletrabalho surgiu como uma nova modalidade com novos critérios mudando o paradigma do local de trabalho, onde cada vez mais se impõe a regulamentação do direito a desligar, como enquadrar o direito a privacidade do trabalhador, a utilização do espaço privado e do equipamento para o exercício profissional, assim como conciliar as exigências profissionais com as tarefas familiares, temáticas insuficientemente regulamentadas no atual quadro normativo.
Em síntese, a pandemia prolonga-se, a crise económica, social e laboral acentua-se, situações que podem aumentar a instabilidade social, pelo que urge a necessidade de aprofundar o diálogo social e melhorar as condições laborais, na forma presencial ou não presencial, exigindo-se medidas que garantam os direitos dos trabalhadores conquistados ao longo do tempo.