Ministério Público russo quer pena de prisão de longa duração para Navalny
O Ministério Público russo defendeu hoje a prisão de Alexei Navalny, na véspera de uma audiência na qual o opositor arrisca uma pena de dois a três anos de prisão e após a repressão de manifestações.
Em nota, a acusação considerou "legal e justificado" o pedido do Serviço Penitenciário Russo (FSIN) de rejeitar a libertação do principal crítico do Kremlin, detido por violação dos termos da sua pena de prisão num caso que remonta a 2014.
Esta declaração atesta a determinação das autoridades em manter Navalny na prisão, apesar das manifestações organizadas no domingo, pelo segundo fim de semana consecutivo, em mais de uma centena de cidades na Rússia para exigir a sua libertação.
De acordo com a organização não-governamental OVD-Info, especializada na monitorização de protestos, mais de 5.300 manifestantes foram detidos em todo o país, um número recorde na história moderna da Rússia, segundo a mesma fonte.
Destes, cerca de 1.800 estavam na capital Moscovo, onde os manifestantes e polícia se enfrentaram durante todo o dia pela cidade, onde a maior parte do centro tinha sido bloqueada, incluindo o metro.
Quase 1.200 detenções também foram registadas na segunda cidade do país, São Petersburgo.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, considerou a repressão justificada, denunciando a participação "de um número bastante grande de bandidos e provocadores, mais ou menos agressivos para com a polícia".
Ainda hoje, um tribunal de Moscovo multou em 20.000 rublos (220 euros) Yulia Navalnaya, mulher do líder da oposição, por ter participado nas manifestações.
O tribunal distrital de Shcherbinski, em Moscovo, considerou-a culpada de ter participado "numa reunião não autorizada, manifestação, marcha ou piquete que causou interferência com o funcionamento de instalações vitais e de infraestruturas de transporte ou sociais", de acordo com a decisão do juiz.
Ativista anticorrupção e inimigo jurado do Kremlin, Alexei Navalny, de 44 anos, foi detido ao regressar à Rússia em 17 de janeiro, após cinco meses de recuperação na Alemanha por um envenenamento pelo qual acusa o Presidente russo, Vladimir Putin.
O motivo da detenção, segundo as autoridades, foi a violação das condições de uma pena de prisão suspensa de três anos e meio pronunciada em 2014 e que pode ser transformada numa sentença efetiva.
Navalny deve comparecer na terça-feira e está sujeito a cerca de dois anos e meio de prisão, tendo já efetuado parte da sentença em prisão domiciliar.
Os apoiantes do opositor foram chamados a manifestar-se antes do julgamento, sendo também alvo de vários processos judiciais.
Vários dos seus aliados e colaboradores estiveram em prisão domiciliar, detidos ou perseguidos na justiça nas últimas semanas.
Alguns enfrentam prisão por violar "padrões de saúde" contra a covid-19 ao organizar protestos, enquanto outros são acusados de incitar menores a participarem em reuniões proibidas.
Apesar da repressão e das ameaças, milhares de moscovitas manifestaram-se no domingo, apesar das medidas de segurança excecionais.
Os manifestantes iam encontrar-se primeiro em frente à sede dos Serviços Especiais (FSB), mas as autoridades isolaram o centro da cidade, forçando-os a encontrarem-se mais a norte na tentativa de chegar ao estabelecimento onde Navalny está detido.
A polícia respondeu ao usar toda a força para fazer detenções e, em várias cidades, as forças de segurança usaram os cassetetes sem cerimónia.
O mediador de São Petersburgo, Alexander Chichlov, denunciou "uma operação essencialmente militar".
As condenações internacionais foram unânimes, com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, a lamentar as "táticas brutais" e o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borell, a deplorar "as detenções em massa" e "o uso desproporcional da força".
Ainda hoje, o secretário de Estado francês, Clément Beaune, deu a entender que novas sanções da UE contra a Rússia poderiam estar em cima da mesa, apelando à Alemanha para abandonar o projeto do gasoduto Nord Stream 2, que liga à Rússia.