Cronologia de um processo democrático falhado em Myanmar
O golpe de Estado militar em Myanmar (antiga Birmânia), com a detenção pelo Exército dos principais líderes políticos do país, marca uma década de transição política iniciada em 2011.
Entre os detidos encontra-se Aung San Suu Kyi, filha do fundador da independência em 1948, e distinguida com o Prémio Nobel da Paz em 1991 tendo sido mundialmente criticada pela responsabilidade no genocídio da comunidade de etnia rohingya em 2016.
Em 2008, a última Junta Militar aprovou uma Constituição que destinava ao Exército amplos poderes (25% dos lugares no Parlamento e o controlo direto nos ministérios do Interior, Defesa e Fronteiras) e que conduziu o país para uma "democracia disciplinada", na terminologia castrense:
Cronologia do processo democrático falhado na Birmânia:
- 13 de novembro de 2010:
Dos muros da casa onde residia em regime de prisão domiciliária, Aung San Suu Kyi, líder do movimento democrático birmanês e filha do general Aung San, herói da independência contra o império colonial britânico, festeja a liberdade que lhe é concedida pelos militares perante milhares de seguidores.
Aung San Suu Kyi tinha passado 15 anos em prisão domiciliária e foi libertada após ter expirado a última condenação, poucos dias após as eleições que iniciaram a transição para a "democracia" traçada pelos militares.
As eleições foram boicotadas pela Liga Nacional para a Democracia (LND) de Suu Kyi.
- 30 de março de 2011:
O general Thein Sein assume a presidência à frente de uma plataforma política composta por antigos militares e inicia uma série de reformas no país, entre as quais a libertação dos presos políticos e o fim da censura.
- 13 dezembro de 2011:
A Comissão Eleitoral aprova a legalização da LND que anuncia a intenção de participar nas próximas eleições.
- 01 de abril de 2012:
Suu Kyi, liderando a LND, consegue ser eleita deputada após a vitória alcançada nas eleições parciais realizadas para eleger alguns assentos parlamentares que permaneciam vazios.
- 08 de novembro de 2015:
O partido de Aung San Suu Kyi vence as eleições nas primeiras eleições gerais democráticas realizadas em várias décadas no país.
- 30 de março 2016:
Suu Kyi, excluída da presidência pela inclusão de uma cláusula estabelecida na Constituição pelos militares, assume o cargo de ministra dos Negócios Estrangeiros, entre outras pastas e pouco depois o posto de Conselheira de Estado que lhe acaba por conferir "de facto" o poder Executivo.
-09 de outubro de 2016:
Um grupo armado de etnia rohingya, não reconhecido pelas autoridades birmanesas, lança um ataque contra três postos policiais fronteiriços.
O Exército responde com uma implacável campanha de represálias provocando durante o ano de 2017 a fuga de 800 mil pessoas para o Bangladesh.
- 11 de dezembro de 2019:
Suu Kyi, duramente criticada pela comunidade internacional e rejeitada por várias organizações não-governamentais como símbolo democrático, defende perante o Tribunal de Haia a atuação dos militares contra o povo rohingya, no contexto de uma acusação de genocídio apresentada pela Gâmbia.
- 10 de março de 2020:
O Parlamento birmanês, onde os militares contam na prática com o direito de veto, recusa a última tentativa da LND para reformar a Constituição, cujas emendas tinham sido uma promessa eleitoral.
- 08 de novembro 2020:
Aung San Suu Kyi e a LND proclamam vitória nas eleições (83% dos votos) mas os militares consideram o ato eleitoral fraudulento.
- 26 de janeiro de 2021:
Um porta-voz militar nega-se a descartar a tomada do poder pelo Exército, após as denúncias de supostas irregularidades nas eleições do passado mês de novembro, enquanto surgem os primeiros rumores de um possível golpe de Estado.
- 30 de janeiro de 2021:
Os militares comprometem-se, em comunicado, a cumprir e a defender a Constituição.
- 01 fev de 2021:
O Exército birmanês detém Aung San Suu Kyi e anuncia o estado de emergência no país durante um ano para que o chefe das Forças Armadas, Min Aung Hlaing, tome o poder.