Comércio Local também é gente
É de mau tom, a roçar a provocação, a comunicação social fazer manchete com a constatação de uma naturalidade que é o comércio local fechado ao domingo. Mas desenganem-se ao pensar que lá pelas portas do comércio estarem fechadas, quer dizer que não estão a trabalhar!! Naquela foto de manchete, escolhida a dedo, estão denunciadas viaturas que quase que aposto que são de comerciantes locais que estão a trabalhar para manter o pobre sustento da sua família, mesmo sendo fim-de-semana, dia de folga, descanso dos trabalhadores empregados e dos trabalhadores empregadores também!
O comércio local está aberto de Segunda a Sábado e é durante esse período que o comércio precisa de Cruzeiros, turistas, clientes, dinamização! Não é ao sábado à noite e ao domingo, meia dúzia de migalhas lá de vez em quando… Cada zona da cidade tem a sua dinâmica e cabe aos governantes se adaptarem às mesmas, e não o contrário. Há estabelecimentos que ficam abertos 14, 16 ou mais horas por dia, estando também lá dentro os patrões-escravos a trabalhar, para chegar a segunda feira e ler no diário (de que são assinantes) o escárnio e desrespeito contra eles! A maior parte do comércio tradicional não tem e provavelmente nunca vai ter condições para ter “equipes de colaboradores” para o estabelecimento funcionar 7 dias por semana sem parar, por dificuldades naturalmente permanentes e estruturais das empresas da região devido à nossa ultraperiferia… Para ter portas sempre abertas, nas condições atuais, os trabalhadores têm que abdicar dos filhos, da família, do descanso físico e psicológico, e substituir a pouca ou nenhuma prosperidade ao prejuízo. Prova disso, são as declarações de todos os lojistas entrevistados (com a exceção de uma mentirinha…).
Mas percebe-se o timing da notícia de manchete e as “indiretas” do Sr. Presidente. Há empresas a receber apoios legítimos (apoios para rebater as dificuldades criadas pelas próprias entidades públicas, como confinamentos, restrições, pedidos de crédito para sobrevivência empresarial, salários efetivos, etc.) e surgem ideias sem nexo dos governantes locais, como por exemplo, a “dinamização do comércio local ao fim-de-semana, aos sábados e domingos à noite”. É para escravizar as pessoas às 60 e 70 (ou mais) horas semanais? Será pela iluminação natalícia que os meninos que folgam à sexta-sábado-domingo vêm à cidade, vêem-na parcialmente fechada e ficam tristes porque gostavam de passear e ver as lojas abertas e dizer “Ah é só para ver…” ou “Ah, é um garoto clarinho com leite morno sem espuma de leite e chávena escaldada”? Isto sem referir que cruzeiros não é sinónimo de bons negócios ao comércio local. O risco de prejuízo é enorme, pois na maioria das vezes os turistas de cruzeiro só desembarcam para fazer chichi e tirar fotografias… ou então vão em caravanas ver as serras, encaminhados por “guias” a estabelecimentos pré-escolhidos à custa da comissão. O engraçado é a enorme coincidência do Sr. Presidente ter entrado na única loja da cidade que fez bons negócios… Só não acerta no euro-milhões!
Portanto, para manter o comércio aberto 7 dias por semana, seria preciso uma enorme prosperidade comercial, constante durante todo o ano, pois a lei laboral não permite que haja flexibilidade na contratação, mediante a realidade atual. Para empregos efetivos, prosperidade efetiva. Sem um, não existe o outro.
Mais do que ninguém, de certo que qualquer empresário desejaria faturar 7 dias por semana sem parar. Mas dificilmente haverá condições que não rocem o SERVILISMO.
Não denigram o comércio tradicional. O Comércio local também é gente!
A. Fraga