Ex-porta-voz de Boris Johnson demite-se após vídeo embaraçoso
A ex-porta-voz do primeiro-ministro britânico anunciou hoje a demissão, depois de ter sido divulgado um vídeo no qual gracejava sobre uma alegada festa de Natal em Downing Street que terá violado as regras anti-covid.
Allegra Stratton, que foi a porta-voz do Governo durante a cimeira climática COP26, pediu desculpas aos britânicos pelos "comentários que pareciam levar as regras levianamente, regras que as pessoas fazem de tudo para respeitar".
"Os britânicos fizeram imensos sacrifícios na batalha contra a covid-19, agora receio que minhas palavras tenham se tornado uma distração dessa luta", disse, entre lágrimas, num comunicado que leu aos jornalistas reunidos em frente à sua casa.
Durante o debate semanal no Parlamento, o primeiro-ministro Boris Johnson manifestou-se "furioso" após a divulgação do vídeo, anunciou uma investigação interna e prometeu sanções se as regras anti-covid não tivessem sido respeitadas.
A ex-jornalista Allegra Stratton, de 41 anos, foi recrutada por Downing Street há um ano para protagonizar conferências de imprensa diárias, como faz a Casa Branca, mas a ideia foi abandonada.
Desde a COP26, que voltou a ser assessora do primeiro-ministro.
Um vídeo interno obtido e divulgado pela estação ITV mostra Stratton e outros assessores a gracejar sobre uma "festa fictícia" durante os ensaios para uma conferência de imprensa.
No vídeo, datado de 22 de dezembro de 2020, Stratton é desafiada a responder a perguntas sobre rumores de uma alegada festa de Natal em Downing Street na sexta-feira anterior.
"Esta festa fictícia foi uma reunião de trabalho e não teve distanciamento social", brincava, entre risos e a piada de outro assessor de que "não foi uma festa, foi vinho e queijo".
O vídeo vem alimentar as alegações de que uma festa terá ocorrido na residência oficial do primeiro-ministro, em Downing Street, a 18 de dezembro de 2020, quando Londres estava sob restrições apertadas devido à crise de saúde e encontros sociais em espaços fechados entre duas ou mais pessoas eram proibidos.
A notícia, inicialmente avançada pelo tablóide Daily Mirror na semana passada, foi, entretanto, repetida por outros meios de comunicação britânicos, que adiantaram detalhes como a participação de dezenas de pessoas que consumiram álcool e fizeram jogos.
"Peço imensas desculpas pelo insulto que tem causado em todo o país e peço desculpa pela impressão que dá. Mas eu repito que fui repetidamente assegurado, desde que essas alegações surgiram, de que não houve festa e que nenhuma regra covid-19 foi violada", afirmou hoje Boris Johnson no Parlamento.
O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, acusou Johnson de estar a tratar as pessoas como "idiotas" e questionou a "autoridade moral [de Boris Johnson] para liderar e pedir ao povo britânico que cumpra as regras".
O líder do Partido Nacional Escocês, Ian Blackford, pediu a Boris Johnson para se demitir, mas na resposta, o primeiro-ministro acusou os opositores de "brincarem com a política".