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A política das pessoas

Rangel, inchado pelo mediatismo patrocinado pelo sistema do costume, trazia nada, para além de uns sinistros apoiantes de que não se conhece ideia

Dos últimos processos eleitorais resulta um elemento que engrandece, ainda mais, o sistema democrático, destacando o que de mais elementar e essencial a política e a democracia devem ter em comum. As pessoas, primeira e última razão da política, em democracia, decidem, por si, em liberdade, em consciência. E decidem sempre bem, seja qual for a opção, em cada momento.  A verdade é que nem o branqueamento justificado pela necessidade de manter a matilha que determina a, dita, opinião pública com previsões de ilustres fazedores de opinião nem as sondagens anunciadas com mínimas margens de erro, conseguiram “controlar” a escolha dos eleitores. O escrutínio autárquico de Setembro passado foi fértil nessa demonstração de que não há quem, em democracia, seja capaz de subjugar a capacidade de decisão das pessoas. Lisboa foi exemplo maior do significado do voto, livre e consciente. A campanha foi reduzida, quase sem se dar por ela, favorecendo o poder instalado, ainda para mais com a oposição apresentando alguém sem jeito para as lides do poder local, onde tradicionalmente, a tarimba da experiência e da comunicação fácil assume maior eficácia. E, de repente, o povo, sempre o povo, mostra que a medíocre opinião pública afinal mais não é do que uma espécie de entretenimento palaciano, que de seguida consegue encontrar as virtudes dos antes incapazes cujo destino anunciado seria o fracasso. Funchal e Coimbra mostraram também que a coisa artificial e inócua pode ser moda interessante mas, nem por isso passageira. Não vale a pena procurar razões seja lá onde for, quando a primeira e determinante se encontra na consciência das pessoas, cujo preço, por enquanto, ainda não está ao alcance da demagogia barata. Rui Rio, no PSD, é outra evidência do valor e da capacidade da política para as pessoas, num duplo sentido. No de que um político, sobretudo um líder, deve ter sempre como prioridade o interesse comum, e que as ideias, afinal, a política, só fazem sentido se fizerem sentido para as pessoas. Rangel, inchado pelo mediatismo patrocinado pelo sistema do costume, trazia nada, para além de uns sinistros apoiantes de que não se conhece ideia, acreditando que bastaria diminuir o oponente para conquistar o “rebanho” não pensante. E os opinadores contorcionistas, valorizando a genica do discurso rangelista, como se isso bastasse para chegar à confiança dos que efectivamente precisam de políticos que façam política para resolver os seus problemas. O resultado foi surpresa, apensas para quem está habituado a elaborar no vazio. Então as pessoas não apreciam ideias?. Claro que sim, e no momento de votar, olham para trás e relembram posições, propostas, atitudes, e contextualizam tudo isso em função do que está em jogo. E o que estava em jogo era escolher um líder de um partido, que rapidamente seria candidato a primeiro ministro. Não poderia ser outro o resultado, como aliás a generalidade da opinião acabou por reconhecer. O povo na sua sabedoria imensa, baralhou o quadro da política nacional. Aproveitou as autárquicas para dizer ao governo que quem manda não é o discurso arrogante dos milhões e, no partido líder da oposição, cimentou essa ideia de que quem decide é sempre as pessoas. Quem, há seis meses imaginaria umas eleições nacionais com uma derrota do partido do governo em Lisboa e uma oposição que afinal não é tão moribunda ou incapaz como têm tentado vender?. Talvez, só mesmo as pessoas conseguiram ver isso.