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Lá estamos nós outra vez...

Uma coisa já percebemos, infelizmente, como sociedade nem sempre somos responsáveis

No início da pandemia fomos confrontados com uma dura realidade que iria alterar o nosso dia-a-dia como havíamos conhecido até à data.

Ficámos fechados, experienciámos o que é viver 24/24 horas com as nossas famílias e tivémos de aprender a conviver de forma diferente.

Percebemos que não somos imunes a nada, que tudo pode acontecer. Mas a maior prova tem sido o nosso sentido de responsabilidade, pois os nossos actos individuais têm consequências na família, na comunidade, na sociedade, no país e no mundo.

E é aqui que se testa até que ponto a minha “liberdade” pode pôr em causa não só a minha vida como a vida de todos. Há quem considere uma violação dos SEUS direitos, ter que ser testado todas as semanas (irónico que muitas destas pessoas, nas redes sociais, noutros tempos, criticavam o governo por não testar e poupar testes). Há quem considere uma violação da “liberdade” estar condicionado à utilização de espaços, não essenciais, utilizados por TODOS se não estiver vacinado. Mas mais do que os anteriores, há ainda quem resista a utilizar aquele que é inequivocamente o melhor e mais eficaz método de proteção, a máscara.

Até admito que numa primeira análise possa ser muito discutível, mas se analisarmos com atenção será que não farão sentido estas medidas?

Se eu não me vacinar, tenho maiores probabilidades de desenvolver doença grave e vir ocupar uma cama de hospital. Multiplicando de forma incessante esta condição ficamos com um sistema de saúde que não consegue dar resposta aos internamentos não só devidos a esta doença como de todas as outras. Esta realidade aconteceu antes da vacinação. Lembram-se dos hospitais lotados, ambulâncias à espera com doentes na estrada, falta de ventiladores? Assim, se me vacinar não estou só a proteger-me de possíveis complicações como estou a impedir o colapso das unidades de saúde, tão precisas para darem resposta todas as doenças e urgências.

Mas a vacina impede de apanhar a covid e contagiar os outros? Não. Infelizmente, já vimos que não. O principal benefício, parece-me ser não desenvolver doença grave.

E é aqui que entra a testagem, massiva, a vacinados e a não vacinados. A importância da testagem é quebrar as cadeias de transmissão e identificar assintomáticos. É, claramente, uma das medidas mais importantes a par do uso da máscara, distanciamento social e desinfeção das mãos.

Com a testagem, conseguimos identificar e atuar de forma efetiva, isolando os casos positivos, permitindo que os mesmos se recuperem sem transmitir a doença a mais ninguém.

A testagem deveria, no entanto, ser feita freguesia a freguesia, especialmente nas zonas rurais, pois só assim evitamos aglomerações e contactos com pessoas de outros sítios que estejam eventualmente positivas. Alguém já viu as filas das farmácias e dos centros de testagem?

Uma coisa já percebemos, infelizmente, como sociedade nem sempre somos responsáveis. Se não é obrigatório então não é preciso fazer, e não adianta dizerem que não é bem assim, porque é. Sejamos claros e diretos, se assim não fosse não estávamos novamente na situação em que estamos. Claro que há sempre exceções, pessoas que assumem a necessidade de cumprir recomendações.

Por isso penso que a discussão não é se é legal ou não a obrigatoriedade, mas sim se as medidas são ou não pertinentes. Façam e incentivem a fazer o que está certo e questionem o que não está bem, para que nos livremos deste vírus e dos seus efeitos.

O que se devia discutir, e não vejo ninguém a falar disso, é o facto de que quando há contacto de um menor com um caso positivo, os apoios só existem para um adulto ficar em casa a cuidar desse menor. Os outros adultos vão trabalhar como se nada fosse, porque não existem apoios sociais, embora estejam no mesmo ambiente com o restante agregado familiar. Uma criança em contacto com um caso positivo é testada (e apenas a criança) entre o quinto e o sétimo dia e, mesmo com resultado negativo, deverá permanecer em casa 14 dias, pois consideram que pode ainda desenvolver a doença depois do teste. Quanto aos irmãos, só se forem pequenos é que devem também ficar em casa. Não consigo compreender os critérios de análise de risco nesta situação. Então os outros adultos e adolescentes fazem vida normal e não são sequer testados? As regras não deveriam ser aplicadas a todo o agregado familiar? Aqui está um verdadeiro contrassenso no que se está a fazer ao nível da saúde pública. Arrisco-me até a dizer que o Estado tem inclusivamente responsabilidades na disseminação da doença ao fazer as coisas desta forma. Ao andarmos nesta desarticulação estamos a perpetuar a doença e a sua disseminação, com graves efeitos económicos e sociais.

Sobre a vacinação das crianças o assunto é muito mais complexo, porque ainda não existem estudos científicos suficientes e algumas das principais entidades médicas, particularmente pediátricas, apresentam posições muito claras sobre o assunto.

Essa é uma decisão que deverá caber aos pais, sustentados em opiniões científicas e na opinião dos seus médicos. Por isso, antes de decidirem, procurem informações credíveis e de pessoas ou entidades médica e cientificamente credíveis.