Análise

Vacina

Controlar a pandemia e sustentar a economia é o objectivo

Num dos últimos ajuntamentos contra as medidas impostas para mitigar os efeitos da pandemia, realizado junto à Quinta Vigia, um dos participantes revelou o seu segredo para manter-se imune ao vírus: fazia uma boa alimentação e era uma pessoa calma. Por vivermos numa democracia, cada um é livre de dizer o que bem entende, mas ‘desabafos’ como estes mostram em que pilares assentam as convicções aberrantes dos que negam a evidência científica. A ignorância militante que subjaz a este tipo de declarações não ajuda a uma atitude esclarecida sobre as repercussões provocadas pelo vírus e aumenta a necessidade de se discutir o tema da vacinação obrigatória, como defendeu a presidente da Comissão Europeia, especialmente para alguns grupos, como os que operam na saúde, na educação e em qualquer outra área que implique contacto com pessoas.

Vem isto a propósito da eleição mais do que provável da palavra do ano, numa iniciativa levada a cabo pela Porto Editora. ‘Vacina’ deverá ser a escolhida, num ano marcado pela inoculação da esmagadora maioria dos portugueses. Já todos sabíamos e a confirmação está diante dos nossos olhos: por si só a vacina não é sinónimo de cura ou de impeditivo da doença, mas é evidente que nos protege. Desenvolvida em tempo recorde é a nossa melhor aliada até ao momento, a par das medidas preventivas que não podem ser de forma alguma aligeiradas. Antes pelo contrário. Como referem os dados da Saúde Pública, o País caminha para uma escalada de novos casos, com o consequente aumento de mortes e de pressão sobre os serviços de saúde. Uma realidade que atinge a Região com gravidade. Registamos o triplo das mortes por infectados, com uma taxa de letalidade três vezes superior à do continente. Os sinais de alerta não podiam ser mais explícitos. Para evitarmos a “tempestade perfeita”, como alertou Herberto Jesus, temos de redobrar cuidados e não relaxar no protocolo sanitário bem conhecido: usar máscara, desinfectar as mãos, manter a distância entre pessoas e fazer os testes de antigénio – que são gratuitos. Numa época festiva e calorosa como esta, é primordial prevenirmo-nos. Se participarmos em jantares, temos de o fazer em segurança, pois dispensa-se qualquer tipo de retrocesso que implique penosidade económica e social. Não é fácil sustentar a economia e controlar a pandemia. Contudo, o vírus não se combate com bonomia, mas com responsabilidade esclarecida e resiliência. Esta última é outra das palavras mais utilizadas durante o ano.

Não se pode é aproveitar a boleia da covid para esquecer ou menosprezar os outros problemas de saúde que precisam de resposta pronta. Não é admissível a existência de tão longas listas de espera para consultas e cirurgias como as que actualmente existem. Pôr um doente em stand by meses e anos pode ser, em muitos casos, uma sentença de morte.

P.S.: Lorenzo Damiano, negacionista italiano e líder de um movimento anti-vacinas esteve internado uma semana nos cuidados intensivos com covid-19. Mudou de ideias e, depois sw ter comparado quem se opunha às vacinas a vítimas do Holocausto, veio apelar à inoculação massiva, num vídeo divulgado na Internet.

Vale a pena pensar nisto.