Insustentável leveza da agricultura biológica
No livro A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera explica-nos de forma entusiasmante que a existência humana carrega ao mesmo tempo leveza e peso. O mesmo, considero, se aplica à agricultura biológica, que tem uma leveza teórica muito estética, pois abre mão da utilização de pesticidas, químicos e fertilizantes, ao mesmo tempo que apresenta um peso indesmentível, porque implica maiores áreas de cultivo, que se traduzem num impacto climático incalculável.
Para os menos entendidos em agricultura biológica bastará ter em atenção que precisaríamos de três planetas Terra para produzirmos apenas alimentos biológicos, que são incomparavelmente mais caros do que os produtos ditos convencionais, porque os sistemas produtivos são mais lentos e necessitam de mais mão-de-obra. Ainda para mais não há provas científicas inequívocas de que os produtos biológicos tenham superiores vantagens para a saúde dos consumidores, por isso toda a campanha fundamentalista a que vamos assistindo é uma pura ilusão de ótica e, até, uma falácia.
Mesmo assim são cada vez mais os promotores da agricultura biológica, que têm alguns deputados da Assembleia Legislativa da Madeira como escudeiros e que tudo fazem para fomentar o lobby biológico, tentando vender a ideia ignorante de que é melhor para o ambiente.
Não quero com isto sugerir que a agricultura biológica não tem espaço. Precisa, no entanto, de ser cuidadosamente considerada, porque quando se trata do impacto climático é uma alternativa muito pior.
Existem muitos estudos que comprovam que a produção de alimentos orgânicos não é apenas leveza, apesar do histerismo que reina em torno das alterações climáticas, enganador quando promovemos soluções que agravam o problema. Por isso, o peso da agricultura biológica é indesmentível, na sua insustentável leveza.
Jesus Camacho