Candidato diz que sofreu ataque de notícias falsas antes das eleições no Brasil
O ex-juiz e candidato à Presidência do Brasil Sergio Moro afirmou ontem que foi vítima da divulgação de notícias falsas nas quais é acusado de favorecer o atual Presidente, Jair Bolsonaro, em cujo Governo foi ministro da Justiça.
"A campanha nem começou, mas todos os dias eles criam 'notícias falsas' contra mim. Já tentaram me associar à Odebrecht, agora me acusam de ajudar o 'doleiro' [operador de moeda estrangeira, Alberto] Youssef", disse Moro num vídeo publicado na rede social Twitter.
Youssef, apontado como o principal 'doleiro' preso pela operação Lava Jato, teria contribuído com dinheiro para a campanha eleitoral do senador Álvaro Dias, que na segunda volta apoiou Jair Bolsonaro e também é presidente do Podemos, o partido que lançou a candidatura de Moro.
"Olha, pelo amor de Deus, só há uma verdade aqui: mandei prender o Yousseff", disse Moro, que lembrou que como juiz da operação Lava Jato também ordenou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha e do ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral.
"Tive muita gente presa. Sempre por corrupção e branqueamento de dinheiro", concluiu Moro, sem mencionar que embora tenha ordenado a prisão de Youssef também aprovou dois acordos de colaboração com ele.
No Brasil, a lei de colaboração premiada concede benefícios para acusados de crimes que confessam atos ilícitos praticados em troca de benefícios como a redução da pena.
A lei, no entanto, indica punição para beneficiários que voltarem a praticar crimes depois de firmarem acordos com a justiça.
Moro aceitou um acordo de colaboração premiada que beneficiou Yousseff numa investigação sobre crimes cometidos num escândalo envolvendo o antigo Banestado (banco do estado do Paraná) em 2000.
Em 2014, Yousseff voltou a ser preso nas investigações da operação Lava Jato e, embora tenha sido flagrado praticando crimes depois de firmar um acordo em que se comprometia a não voltar a ferir a lei, foi novamente beneficiado pelo ex-juiz em troca de confessar os crimes nos quais participou na estatal petrolífera Petrobras e de denunciar outros envolvidos.
O vídeo de Moro foi gravado um dia depois de uma entrevista concedida à rádio Capital na qual o pré-candidato cometeu um deslize e chegou a afirmar que quem "lutou contra o PT [Partido dos Trabalhadores] de forma muito mais efetiva e eficiente foi o Lava Jato".
Imediatamente após a sua declaração, Moro reagiu e esclareceu que a Lava Jato "mal descobriu os esquemas de corrupção e mostrou o que o PT realmente é".
O depoimento foi interpretado por alguns meios de comunicação social como uma forma indireta de Moro admitir que o objetivo da Lava Jato não era combater a corrupção, mas tirar o PT da disputa eleitoral com a prisão de seu maior líder, o ex-presidente Lula da Silva, o que beneficiou Bolsonaro, que posteriormente nomeou Moro como ministro da Justiça.
Moro deixou o Governo em 2020 após afirmar que Bolsonaro queria interferir no comando da Polícia Federal, aparentemente para beneficiar o senador Flávio Bolsonaro, seu filho mais velho e investigado por corrupção.
O Supremo Tribunal Federal chegou a considerar este ano que a atuação de Moro na Lava Jato foi parcial e anulou várias sentenças proferidas pelo ex-juiz, entre elas a de Lula da Silva, que recuperou seus direitos políticos e é o líder nas sondagens sobre as presidenciais brasileiras marcadas para 2022.