A nova lógica
Boa noite!
2021 chega ao fim com máximos impensáveis em termos de casos positivos de covid-19 porque é essa, nesta altura, a lógica instalada. Ou seja, como ao acréscimo exponencial de infecções não corresponde, na mesma proporção, internamentos e mortos, ganha terreno a tese que estamos num contexto diferente. Parafraseando o virologista Pedro Simas, “temos que simular já que este é um vírus endémico, como se estivéssemos a viver normalmente”.
Só assim se compreende a diminuição dos dias de isolamento dos infectados, a valorização mediática dos casos recuperados em menor espaço de tempo e o expectável abrandamento de testes. Como contrapartida, convém não descurar as atitudes preventivas e de protecção, a inoculação com a dose de reforço, sobretudo a grupos de risco, o uso de máscara e a prudência social.
Se quem sabe e tem estudos garante que “está tudo controlado” não há grandes margens para dissertações. O que falta saber é se depois da dócil variante ómicron não surge uma outra mais cruel que obrigue a novos ziguezagues e restrições, a mais confusões e alucinações. Infelizmente, como se já não bastasse os efeitos devastadores da crise pandémica, começa a ser preocupante perceber que com o aumento de casos cresce também o número de entendidos em coisa nenhuma, um sem número de ignorantes atrevidos, a que se juntam os habituais peritos em ameaças, a tribo dos negacionistas e os mentores do caos social. Fartos de problemas e de medos, os que sofrem pedem soluções, bom senso e, senão for pedir muito, fármacos em vez de zaragatoas, líderes em vez de seguidores e ciência em vez de palpites.