Contrastes
Enquanto a pandemia se perpetua face aos ganhos da ciência, a nossa vida vai-se pincelando de alguma normalidade, apesar das passadas de pés nus sobre a lâmina afiada, ladeada de abismos e de desconhecido. As vagas que vergastam o ilhéu resiliente são naturalmente procelosas e esta, é apenas mais uma, após um breve esteio de tormenta. Há um cansaço mental que subtilmente se entranha pela alma, e que relembra o poço onde caímos, de paredes caiadas de liberdade e de paliativos enganos apaziguadores que ocasionalmente nos alienam da dura realidade. Que não se descure as restantes doenças, que, com mais ou menos “cormobidades”, adensam a estatística da letalidade da Covid, e que se tenha muita atenção, ao cansaço mental que subtilmente se vai entranhando na nossa “alma”, mas com uma dor átona, silenciosa, porém excruciante e igualmente mortal, mas que não figura num boletim mediático. Nunca se morreu tanto de Covid na Madeira como nas últimas semanas. Nem os mais de 85 % de vacinados, mascaram a óbvia evidência de quem se vacina, tem mais chance de viver e ter uma vida tanto quanto possível, estranhamente “normal”. A proteção profilática e a confiança na Ciência são essenciais. Não podemos relaxar nem facilitar a guarda com esta ameaça invisível. Testar e vacinar é a pedra de toque. O vírus ataca todos, e sei que um dia seremos íntimos, provavelmente numa daquelas derradeiras amizades da onça. Apenas temos de estar tão protegidos quanto possível para “o acolher involuntariamente”.
O país entretém-se com os jogos e estratégias políticas que culminarão numas eleições antecipadas com toda a estupidez que alimentamos e temos direito: o aparvalhado dia de reflexão e a ida dominical à urna física depositar o dobrado papelinho. É este ainda o anacrónico ritual do país que acolhe a WebSummit e abraça a economia digital e a desmaterialização, mas que, mantém fossilizados os procedimentos cimeiros do exercício democrático. Depositamos a nossa vida na Ciência, mas recusamos teimosamente confiar o nosso voto na Tecnologia. E ainda nos denominados “sapiens-sapiens”…
Somos um povo de distintas dimensões. Pequenos e grandes em tanta coisa que só uma nação longeva de tanto século, consegue condensar. Há dias a Madeira deu um enorme passo para a criação daquela que é, a maior área marinha da Europa com estatuto de proteção total que totaliza mais de 2600 km². Esta é uma daquelas audazes medidas com repercussões intergeracionais e estruturantes, de todo aquele ambiente de águas pristinas, enquanto legado assegurado às vindouras gerações. Só espíritos visionários que se elevam sobre o seu tempo, conseguem tornar possível estas medidas de futuro que saúdo com emoção. Também por isto, pela esperança e manutenção da nossa resiliência, sinto-me já plenamente ofertado neste Natal e saúdo-vos com Boas e (Seguras) Festas.