Xanana Gusmão diz-se "muito triste" com despejo de grupo cultural Arte Moris
O ex-presidente de Timor-Leste, Xanana Gusmão, manifestou-se ontem "muito triste" com o despejo do grupo cultural Arte Moris, uma decisão das autoridades timorenses, que "não prestigia os setores da arte e da cultura".
"Fico muito triste, fico muito triste na medida em que foi um ato que, eu não queria usar de vandalismo, mas um ato que não prestigia o setor da arte, da cultura", afirmou Xanana Gusmão à Lusa, à margem de uma palestra em Lisboa sobre "A construção do Estado nos países frágeis no pós-covid: Desafios e oportunidades".
O antigo chefe de Estado timorense disse ter ficado "espantado" com a decisão das autoridades.
"Fiquei espantado. Espantado e mais espantado ainda quando pegam nas suas obras e deitam como se fosse... Quer dizer, fiquei triste, muito triste, e quando soube disso telefonei imediatamente para Díli, falei com alguns amigos para irem ter com Arte Moris e levarem as coisas para... eu tenho lá uma Sala de Leitura Xanana, para levarem e guardarem lá" as obras, explicou.
Em causa está a execução na quarta-feira, na capital timorense, da ação de despejo administrativo do maior grupo artístico e cultural timorense, a Arte Moris, atirando para a rua dezenas de obras de arte, incluindo algumas da coleção permanente.
Xanana Gusmão disse ainda que hoje de manhã recebeu a informação de que alguns padres têm espaços disponíveis para guardar o que não possa caber na Sala de Leitura Xanana.
O ex-presidente de Timor-Leste acrescentou que participou recentemente numa videoconferência promovida por uma universidade da Coreia (do Sul), a qual resolveu doar-lhe uma soma em dinheiro.
"Eu tenho dinheiro na Fundação e vou utilizar o dinheiro da Fundação para ver se arranjo um espaço para eles", garantiu Xanana, considerando que "muitos políticos, muitos governantes, não sentem o papel da arte, o papel da cultura na vida das pessoas, na vida do povo".
Instado a avaliar o trabalho do atual Governo de Timor-Leste, Xanana Gusmão escusou-se, dizendo apenas que "é costume não se lavar a roupa suja em casa do vizinho".
Sobre a possibilidade de, em caso de vitória do candidato do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) nas eleições presidenciais, se excluir a dissolução do parlamento, Xanana respondeu que "não exclui nada".
"Por princípio não se pode excluir. Nós fazíamos parte de uma coligação mas, por (uma questão de) princípios, por causa de violações à Constituição, à lei, por princípios nós saímos da coligação de forma que a questão, o partido vale-se pelos princípios. Se nós quiséssemos continuar no Governo estaríamos ali sem fazer nada", considerou.
"Teríamos vice-primeiros-ministros (...) mas um partido estabelece-se, cria-se com o objetivo de servir e nós temos uma visão e temos uma missão a cumprir para o desenvolvimento de Timor", acrescentou.