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Saudades do emigrante *

Quem emigra uma vez é imigrante para sempre.

A saudade é uma espada
mata pra não esquecer,
revive o que abandona,
relembra e faz doer.

A dor desta saudade,
sentimos mas não se vê,
quem não tem nada sabe,
quem tem não sabe o que é.

A saudade é palavra
que deve desaparecer,
substituída por outra
que não nos faça sofrer.

A saudade do emigrante
não há médico que a trate,
por mais que tente a cura
mais forte o coração bate.

Ao emigrar sente alívio
deste sentir relembrado,
já não sofre mais o corpo,
sofre a alma com o passado.

É duro estar tão longe
não poder pisar o chão,
não cheirar as açucenas
nem seguir na procissão.

Quando muito trabalhava
João sonhava emigrar,
mas depois de estar longe
mais deseja regressar.

A terra onde nascemos
é mãe que tudo percebe,
tudo ela nos perdoa
ela sempre nos recebe.

O emigrante e a família
no regresso desejado,
tudo agora é diferente,
mas não como esperado.

Parece que tudo está igual
mas tudo está diferente,
afinal a terra não muda,
o que muda é a gente.

Tanta dor da saudade
percorre a noite calada,
é dor que não se descreve
mas pode ser cantada.

Saudade é o que fica
depois de tudo esquecer,
nem passa com o regresso,
se morre volta a nascer.

Dizem que saudades tem
como sofre toda a gente,
quem emigra uma vez
é imigrante para sempre.

*) Extrato do livro Casa da minha avó, de Filipe Corujeira, a publicar.