Narrativas
O número de pessoas que acumula subsídio de desemprego com vencimentos auferidos ilegalmente em part-times pagos por fora é absurdo
São várias, as que hoje correm por aí e todas com um ponto em comum: - de tanto serem repetidas, são já verdades absolutas e quem as contradiz é um perigoso fascista, negacionista ou um qualquer outro “ista” que deve ser votado ao ostracismo sem dó nem piedade.
A primeira dessas narrativas foi a de que foi o Governo que conseguiu aguentar as empresas. Não foram os empresários nem as pessoas que nelas trabalham mas a entidade que, em comparação com todos os outros países europeus, menos as apoiou e que, em relação ao PRR, menos verbas lhes vai dedicar.
Depois, a desculpa utilizada para o que acima dizemos, é outra das narrativas. É a UE que não permite; eles por eles era tudo e a fundo perdido! Ao mesmo tempo, na Alemanha ou em Espanha, pagam-se ordenados directamente às pessoas e rendas aos proprietários dos edifícios. Estes países sul-americanos são o máximo, não acham?
A seguir veio a narrativa dos salários baixos, iniciada com uma lata do tamanho de um bidão pelos senhores governantes e, pasme-se, logo secundada por alguns empresários, presumo que do regime. A fiscalidade obscena não explica nada disto, nem as contribuições para a Segurança Social, nem o facto de pagarmos 14 meses de ordenados (e contribuições) para as pessoas trabalharem 11; os empresários é que são uns sugadores do suor dos trabalhadores!
Na narrativa relacionada que se seguiu vi muitos caírem que nem patos. De repente, por artes mágicas, deixámos de ter pessoas para trabalhar. Na hotelaria e, mais especificamente, na área da Restauração, não conseguimos contratar ninguém. Claro que aqui se juntou o melhor dos dois mundos: - o Governo tinha exterminado o Covid (antes da população estragar tudo, claro) e os hotéis estavam a bombar tanto que os apoios tinham mesmo era de acabar!
Quem, como eu, experimentou fazer entrevistas nestes últimos tempos sabe bem que as razões são outras. O número de pessoas que acumula subsídio de desemprego com vencimentos auferidos ilegalmente em part-times pagos por fora é absurdo e só não vê quem não fiscaliza.
Em áreas mais administrativas, lá está o nosso concorrente Governo a ajudar. Ainda há dias conversava com um ex-colega, que foi há pouco tempo trabalhar para uma câmara municipal, que estava encantado: - às 15h, num dia mau, já estava em casa… E depois tem feriados, tolerâncias de ponto, 35 horas semanais, dias de São Rali e, em cima disto tudo, pode fazer a maior porcaria que ninguém o despede. É o céu, de facto…
Ao mesmo tempo, mandam-se pessoas com teste negativo para casa, impede-se-as de trabalhar e os hotéis que se amanhem e coloquem um jardineiro a fazer bolos; são jeitosos, eles e não será por aí que o prémio do melhor do não sei quê não virá, até porque aquilo funciona como o telexfree; vota-se e já está!
Ainda gostava de falar da narrativa da estratégica TAP e do retorno do investimento de 3 mil milhões que o Estado ali vai desbaratar; da narrativa dos bares em certas ruas serem muito mais “omnicroniosos” que as barracas do centro da cidade mas a verdade é que se me acabaram os caracteres…
Resta-me desejar a todos um excelente ano de 2022 e agradecer a paciência para lerem o que vou escrevendo. Bem hajam!