Perfil de Desmond Tutu, a consciência moral da África do Sul
Arcebispo emérito da Cidade do Cabo morreu hoje aos 90 anos
Carismático, inspirador, a consciência moral de um país como a África do Sul, o arcebispo emérito da Cidade do Cabo Desmond Tutu morreu hoje aos 90 anos.
O sorriso é visível na grande maioria das fotografias do prémio Nobel da Paz 1984, talvez porque Desmond Tutu era um otimista inabalável.
"A esperança é ser capaz de ver que existe luz apesar de toda a escuridão", declarou e podia mostrar a sua vida na sociedade segregada do 'apartheid' como exemplo.
Desmond Mpilo Tutu nasceu a 07 de outubro de 1931 em Klerksdorp, o segundo filho de um professor primário e de uma cozinheira, e aos 12 anos mudou-se com a família para Joanesburgo.
Nesta altura contraiu tuberculose e quase morreu, experiência que, segundo o site biography.com, o fez desejar ser médico. Embora tenha conseguido mais tarde entrar em medicina, a impossibilidade de a família pagar as propinas fê-lo optar pela formação em ensino e foi professor de inglês e de história antes de estudar teologia.
Inicia os estudos teológicos em 1958, em 1961 é ordenado sacerdote da igreja anglicana e no ano seguinte parte para Londres, tendo obtido o mestrado em teologia em 1966.
Quando em 1975 se torna o primeiro negro a ser nomeado deão de Joanesburgo, Tutu começa a distinguir-se, utilizando a tribuna de que dispunha para "tentar expor as aspirações e angústias" do povo sul-africano, explicou, segundo a mesma fonte.
"Uma pessoa é uma pessoa, porque reconhece os outros como pessoas", considera Desmond Tutu.
Assim, defende direitos civis iguais para todos, a abolição das leis que limitavam a circulação dos negros, um sistema de ensino comum, enquanto dirige a diocese de Lesoto, após ter sido ordenado bispo e, em 1978, é nomeado secretário-geral do Conselho das Igrejas da África do Sul.
Ser uma das vozes mais notáveis do movimento anti-'apartheid' valeu-lhe o Nobel da Paz em 1984 e o prémio trouxe apoio internacional ao movimento e deu-lhe renome mundial.
Dois anos depois, Desmond Tutu torna-se o primeiro negro a ocupar o cargo mais alto na Igreja Anglicana da África do Sul quando é escolhido como arcebispo da Cidade do Cabo.
O primeiro presidente negro da África do Sul, Nelson Mandela, que considerava Tutu "a voz dos sem vozes", nomeou-o em 1996 presidente da Comissão da Verdade e Reconciliação, que visava promover a integração racial no país após a extinção do 'apartheid'.
Mais de dois anos depois e ouvidas cerca de 20 mil pessoas, o arcebispo apresentou ao presidente do país as conclusões que acusavam de violação dos direitos humanos os anteriores governos brancos, mas também os movimentos de libertação, incluindo o Congresso Nacional Africano, o partido de Mandela.
E continuou a criticar os governantes da África do Sul, de corrupção e ineficácia em combater a pobreza, ou mais recentemente devido à onda de violência xenófoba no país.
Retirado da vida pública desde o final dos anos 1990, Desmond Tutu não abandonou a defesa dos direitos humanos e integrou o grupo internacional "The Elders (Os Anciãos)" criado por Nelson Mandela em 2007.
Jimmy Carter, ex-presidente dos Estados Unidos, Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda, e Muhammad Yunus, fundador do Banco Grameen, são alguns dos membros do grupo, que se reúne para discutir formas de promover os direitos humanos e a paz mundial.
Desmond Tutu casou-se em 1955 com Leah Nomalizo e teve quatro filhos.
"Se ficarmos neutros perante uma injustiça, escolhemos o lado do opressor" é uma das frases célebres de Tutu que pode explicar o seu percurso.