“Para nós cristãos o Natal é de carne e osso”, diz Tolentino Mendonça na Madeira, veja o vídeo e as fotos
O cardeal está na Região e presidiu à missa da meia-noite, na sua terra-natal, a convite do pároco de Machico
O cardeal D. Tolentino Mendonça está na Madeira e presidiu à missa da meia-noite, na sua terra-natal, a convite do pároco de Machico, cónego Manuel Ramos.
Foi perante uma igreja replenas de fiéis que, na homília , o cardeal D. Tolentino Mendonça disse que fazemos bem em olhar para a vida como uma ligação entre causa e consequência.
"E a visão matemática da vida tem o seu sentido. A gente sabe que nas pedras não se pode tirar flores, sabemos que dos desertos não podemos tirar correntes de água. Por isso, é importante calcular e prever a vida. É Importante fazer o diagnóstico da nossa situação e da situação do mundo" Cardeal D. Tolentino Mendonça
O Bibliotecário e Arquivista do Vaticano referiu que esta noite Santa nos vem dizer que a vida não são apenas as nossas contas.
Que a vida não é apenas aquilo que a gente consegue calcular. Olhemos para o cenário que nos aponta, as leituras que hoje nós temos. O povo caminhava nas trevas, atravessava a noite escura e parecia o calçado da guerra e as armas. Havia o sangue derramado. Maria e José tinham vindo de longe a este recenseamento, como emigrados, fora da sua região e não encontraram lugar na estalagem. E tiveram naquele momento, que é um momento central da vida, tiveram de ter o seu filho no lugar dos animais, numa estalagem de animais. Os pastores dormiram como impuros nos campos e tinham medo como nós temos medo, por vezes perante a vida.” Cardeal D. Tolentino Mendonça
Por isso, diz, é um cenário que se aproxima da perspectiva de tantas vezes que nós fazemos da história.
"Da História do mundo e da nossa própria história. A gente pensa por onde caminha o mundo. E tornamo-nos pessimistas à medida que crescemos nos anos. Tornamo-nos desconfiados que isto possa acabar bem. De que coisas boas possam verdadeiramente acontecer. Os próprios sofrimentos da vida deixam-nos numa desolação muito grande. Como por exemplo, esta terrível pandemia que nos afecta e que nos deixa numa desolação, os idosos, os adultos, os jovens, as crianças. Estamos numa incerteza muito grande e não sabemos o que se trata e porventura mesmo em termos da nossa vida pessoal, tantas vezes nos sentimos numa noite escura, numa encruzilhada, num lugar sem respostas. Tantas vezes sentimos a vulnerabilidade e a fragilidade e sentimos bem. Isto agora, o que pode acontecer, o que virá daqui" Cardeal D. Tolentino Mendonça
São as questões, os problemas do mundo , que não têm uma solução para si mesmo. Entende que o mundo não tem uma solução para as grandes questões que se levantam.
"Se calhar cada um de nós não tem uma resposta para a sua vida. Não tem uma solução, não tem passe mágico para resolver as suas questões da doença, da família, do trabalho, das relações, do presente e do futuro. Não temos essa solução" Cardeal D. Tolentino Mendonça
Neste sentido, diz que se pensar então que a vida está destinada ao impasse.
"A nossa vida está destinada a uma experiência sem redenção. Então, acontece a noite de hoje, que é a noite do salto que é a noite do sobressalto, porque Deus vai ao nosso encontro. Um menino nasceu para nós. Um filho nos foi dado. Hoje nasceu o nosso Salvador. E como dizia o apóstolo Paulo na carta a Tito “a Salvação é mostrada a todos”. E como diziam os anjos aos pastores nos descampados nas campinas de Belém. Anuncio uma grande alegria que será para todo o povo. Hoje nasceu para vós um salvador, um messias. Cristo é verdadeiramente o salvador do homem. O salvador da pessoa humana. E nesta noite, irmãos e irmãs nos sentimos resgatados, sentimos salvos. Sentimos que o céu se abre. Sentimos que Deus vem ao encontro da nossa vida, vem ao encontro da história do mundo e derrama consolação e esperança na história humana. Na história e na pequena história que é aquela de cada um de nós" Cardeal D. Tolentino Mendonça
D. Tolentino Mendonça fez um convite para que percamos o medo, olhando para o menino do presépio para que o nosso medo se cure.
"Olhando para aquele que vem como o príncipe da paz, que a compaixão de Deus nos ajude a sentir dentro do coração a paz. E a trazer uma paz que ande no nosso mundo, que reconcilie a história. Que é capaz de iluminar as suas freimas, as suas dificuldades. Que é capaz de nos ensinar uma outra maneira de fazer, uma outra maneira de construir, uns com os outros. O nosso mundo, a nossa cidadania, a nossa história. Que a gente sinta que o presépio não é apenas um teatro que a gente contém aqui nas quatro paredes da nossa querida igreja de Machico. Mas que a gente se sinta personagens deste presépio. E sinta que esta história é uma história que toca e transforma a vida de cada um de nós. Ele veio para nós e cada um de nós pode dizer que ele veio para mim. Ele veio para me consolar, ele veio para me transformar. Ele veio para me trazer a paz. Ele veio para me indicar a estrada. Ele veio para me abrir o olhar. Para me dar uma nova visão, uma capacidade de ver, para encher o meu coração de esperança. E neste sentido, de facto, o Natal é para todos, mas é para todos, não apenas como uma mensagem, um augúrio, uma expectativa mais ou menos abstrata, não.” Cardeal D. Tolentino Mendonça
O cardeal destacou que os cristãos o Natal é de carne e osso.
"O Natal tem um rosto. Tem um nome. É a pessoa de Jesus. Por isso, nós cristãos não podemos viver sem Jesus. E sentimos que Ele é verdadeiramente o salvador da história. O Alfa e o Omega, por isso, caímos de joelhos perante o mistério do presépio porque sentimos que é Deus que vem ao encontro da nossa história. Ele se fez carne e habitou no meio de nós. Não é um ideal, não é um ensejo vago, não é um sonho, não é um sentimentalismo. É a realidade. É uma concretude. É um amor que se pode tocar. É um amor que se pode beijar.” Cardeal D. Tolentino Mendonça