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ONG luso-venezuelana distribuiu jantar de Natal a sem-abrigo e crianças em Caracas

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Centenas de crianças, mendigos e sem-abrigo de Caracas tiveram um jantar típico de Natal, com "hallaca", salada de galinha e pão de fiambre, uma iniciativa da ONG luso-venezuelana "Regala Una Sonrisa" ("Dê um sorriso") e do programa "Anjos Lusitanos".

A jornada contou com dezenas de voluntários que percorrem as ruas da capital da Venezuela, do centro até ao populoso bairro de Petare (leste), à procura de mendigos e pessoas sem-abrigo, muitos deles idosos, mas também um número cada vez maior de jovens e crianças.

"Queríamos terminar [as ações] do ano com um evento de Natal em sintonia com as crianças e as pessoas que estão em 'situação de rua'. A jornada terminou num abrigo onde há famílias com muitas crianças que por algum motivo não têm um lar próprio e por isso estão num refúgio para pessoas que vivem nas ruas", explicou a porta-voz de "Regala Una Sonrisa (RUS)".

Segundo Fátima Soares, a iniciativa teve como propósito transmitir a mensagem às crianças de que "o Natal é um momento de alegria, esperança, solidariedade, de compartilhar, e que de alguma maneira o amor e a bondade existem".

"Quando pessoas que não conhecemos chegam com presentes estamos dando um pouco de nós próprios, mesmo que seja apenas um pouco de tempo, de doações de quem não podia estar aqui hoje, é uma forma de demonstrar amor", disse a lusodescendente.

Nesta oportunidade, disse, as crianças, idosos e pessoas sem-abrigo tiveram a oportunidade de ter uma boa refeição, tradicional do Natal, um brinquedo e sapatos.

"É importante partilhar também a alegria, trazer um Pai Natal, palhaços e jogos divertidos, rir, porque disso se trata o Natal: é tempo de família, de alegria, amor, esperança e compartilhar", frisou Fátima Soares.

Por outro lado, assinalou que "a Venezuela é um país petrolífero que tem tido políticas públicas que não são as adequadas" que fizeram "sucumbir" a economia, e levaram a uma queda na produção de petróleo.

"Agora, infelizmente, a situação é tão grave, que batemos o recorde da maior diáspora da América Latina, com mais de cinco milhões de venezuelanos que emigraram à procura de melhores condições, de dinheiro para poder comer. Do país que era exemplo na América do Sul, passamos a uma situação de pobreza, de crise humanitária", disse.

A lusodescendente recordou que quase 80% da população atual da Venezuela está em emergência alimentar, come muito pouco ou não come nutrientes suficientes, incluindo crianças e jovens.

"Graças a Deus que muitos países enviam ajuda humanitária e muitas ONG do país servem de ponte para fazer chegar essas doações, essa ajuda humanitária", exclamou.

Por outro lado, alertou para a ilusão de se ver "muita gente que tem dinheiro, o que faz parecer que não há crise" e instou a ter em conta os que precisam de ajuda.

"Quando atendemos estas pessoas, o mais importante não é a comida que lhes damos, porque é apenas para um dia, é o sentimento de compartilhar e ouvir a outra pessoa. É interessante ouvir as histórias, o que aconteceu, deixar os preconceitos, respeitar, ser solidário e continuar a ajudar", disse.

Para a voluntária e enfermeira Florángel Rodríguez, a melhor maneira de terminar o ano é compartilhando alimentos, brinquedos, com as crianças e as pessoas e promover o sorriso.

"O riso é uma meditação ativa. Quando se está a rir, está-se a rir. Não pensamos em mais nada (...). Temos de fazer as pessoas rir, porque estamos a passar por tantas coisas más, por tanta necessidade, há tanta gente a comer do lixo, tanta injustiça social, que o riso é uma via de escape", disse.

Florángel contou que serviram o "prato típico natalício venezuelano", que diz ser "o melhor do mundo", e que é composto por "hallaca" (uma massa de milho recheada com carnes guisadas e cozida envolvida numa folha de plátano), pão de fiambre e salada de galinha.

"Temos de nos integrar, amar-nos, querer-nos, sem importar de que religião que somos (...) mas, infelizmente, cada vez estamos mais longe a cada dia", disse.

Por outro lado, explicou que quando sai às ruas, a atender os sem-abrigo, "liga-se à terra, ao que as pessoas estão a passar".

"É como dizer-lhes que estou aqui e posso ajudá-los a sair disto. Estas ações não mudam as suas vidas (...), mas percebem que estamos aqui para eles e se resgatamos um deles ganhamos o dia", concluiu.