Madeira

Inacreditável

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Boa noite!

A mulher que foi assassinada esta semana, juntamente com o filho de 10 anos, era agredida há 20 anos. Contudo, apenas apresentou queixa formal poucos dias antes do desfecho que tem tanto de trágico, como de previsível, dado o contexto em que ocorre e o perfil do presumível autor do crime.

Só a 7 de Dezembro deste ano, a vítima admitiu sofrer de agressões desde o namoro.  Nem assim conseguiu estar a salvo da cruel vingança, sobrando a sensação que não foi protegida por quem de direito, que não foi levada a sério pelas autoridades e que não foi devidamente atendida por quem tomou nota de toda uma vida.

Já não está cá para contar porque é que só agora decidiu denunciar tanto sofrimento acumulado e uma vida manifestamente desfeita bem antes do bárbaro crime. Já não tem voz, se é que alguma vez teve, para se defender do agressor, para dignificar a existência. Já está entre os mártires, mas não pode ter partido em vão.

Que raio de sociedade é esta que encolhe os ombros ou lava as mãos num processo inconcebível, tanto mais que a violência doméstica é crime público. Ninguém suspeitou de nada? Nunca foram ouvidos gritos, pancadas ou lamentações? Não foram tidos em conta eventuais sinais de dor ou de tristeza? Não sabem ligar para a Polícia?

Falhamos todos quando deixamos que estes crimes ocorram e se repitam, talvez porque nos distraímos com banalidades e cultivemos aparências a todo o custo.

É hora da boa vizinhança 'meter a colher' sempre que houver indícios de maus tratos ou até mesmo de  monstruosidade encoberta. Nenhuma aliança é tolerável se subsistir à custa da escravidão amordaçada, das obsessões doentias e do amor de fachada.