'Millenial' de esquerda foi eleito como o mais jovem Presidente do Chile
O próximo Presidente do Chile, eleito no domingo, é um 'millenial' reformista de esquerda, que na campanha eleitoral disfarçou as suas tatuagens sob um 'blaser' e que moderou o seu discurso para conquistar o voto do centro.
"O Chile foi o berço do neoliberalismo e será o seu cemitério", gritou Gabriel Boric na noite da vitória eleitoral, na segunda volta das presidenciais, na qual obteve 55,87% dos votos, após uma campanha em que prometeu aumentar impostos aos mais ricos e reforçar o estado social que apoia os mais desfavorecidos.
Mas as ideias radicais que fizeram dele um icónico líder estudantil - em 2011, quando frequentava o quarto ano de Direito, curso que nunca terminou - foram amenizadas na campanha presidencial, para cativar o voto ao centro.
"Eu apaixonei-me pelos sonhos que vivem nele. Mas gosto dele de olhos bem abertos para a realidade", confessou recentemente Irina Karamanos, a jovem namorada de Boric, que esteve ao seu lado na noite da vitória sobre o candidato da extrema-direita José Antonio Kast, que conseguiu 44,13% dos votos.
Gabriel Boric nasceu há 35 anos em Punta Arenas, a sul da capital do Chile, filho de croatas e de catalães, que lhe propiciaram um ambiente educativo de confronto de culturas e de ideias e que, nas suas palavras, "nunca lhe esconderam o trágico passado do país", numa referência às conversas que ouviu sobre Salvador Allende, o presidente socialista que se suicidou em 1973, após um golpe de Estado liderado pelo general Augusto Pinochet.
Da época das lutas estudantis, Boric guarda ainda as tatuagens nos braços e as promessas de lutar por um país com menos assimetrias sociais e com mais preocupações ambientais, batendo-se por um sistema político de maior diversidade e atento aos direitos humanos.
Na campanha eleitoral, o próximo inquilino do Palácio de La Moneda escondeu as tatuagens vestindo 'blasers' de tons sóbrios e suavizou o seu discurso político, mas manteve a determinação em travar o crescimento dos movimentos de direita, que ele considera serem "desarticulados e frágeis".
O seu tirocínio político iniciou-se quando foi eleito para o Congresso chileno, em 2013, onde realizou dois mandatos, cumprindo o feito de ter sido escolhido fora das duas coligações (democrata-cristã e socialista) que tradicionalmente preenchem o órgão legislativo.
Como deputado, esteve por detrás de tentativas de reformas do sistema educativo e do sistema de saúde, que acabaram por falhar por falta de entendimento num parlamento de soluções políticas muito instáveis.
Os amigos de Gabriel Boric dizem que ele é uma pessoa "inquieta e sempre insatisfeita", salientando a determinação com que persegue os "eternos sonhos de justiça e igualdade" e o fervor com que abraça causas feministas e progressistas.
Mas Boric também tem os seus "fantasmas" e falou deles numa recente entrevista a uma rádio chilena, conversando abertamente sobre o período em que lhe foi diagnosticada uma doença obsessiva-compulsiva, que o obrigou a um breve internamento hospitalar, em 2018.
Os adversários políticos não escondem a preocupação com o passado radical de Gabriel Boric, lembrando que ele esteve ao lado de movimentos libertários, cujas ideias foram "mascaradas" durante a campanha eleitoral, mas que podem emergir a partir de 11 de março, dia em que tomará posse como o mais jovem Presidente do Chile.