ONU preocupada com aumento da subnutrição na Venezuela
A ONU manifestou hoje preocupação pelo aumento dos casos de subnutrição na Venezuela, país que continua a registar importantes carências humanitárias, que se agravaram com a pandemia da covid-19.
"A segurança alimentar e a nutrição continuam a ser uma preocupação fundamental. A taxa de subnutrição aumentou de 2,5% em 2010-2012 para 27,4% em 2018-2020", explica o relatório Visão Geral Humanitária Global (VGHG), divulgado hoje.
O documento, elaborado pela Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) começa por afirmar que "uma contração económica prolongada e significativa, inflação crónica com episódios de hiperinflação, polarização política e violência localizada continuam a ser os principais motores das necessidades humanitárias na Venezuela".
"Em 2021, uma modesta recuperação da produção petrolífera e medidas económicas liberalizantes melhoraram ligeiramente o desempenho económico e ajudaram a conter a inflação", afirma o VGHG.
Segundo o relatório, "a contração do PIB em 2021 está estimada em 4%, ante os -30% em 2020, prevendo-se que a economia cresça em 2022" na Venezuela.
Contudo, adianta, "a contínua contração económica e as amplas sanções setoriais" internacionais afetam "serviços essenciais como os cuidados de saúde, água e saneamento, educação, abastecimento de gás doméstico, combustível e eletricidade".
Além da deterioração dos serviços, que afetou as vidas e meios de subsistência das famílias vulneráveis, a pandemia da covid-19 agravou a situação humanitária e a quarentena fez reduzir as atividades económicas, as oportunidades de emprego formal e a produção, além de aumentar a violência doméstica.
"Os produtos estão disponíveis, mas as famílias vulneráveis enfrentam dificuldades no acesso, devido à diminuição do poder de compra", sublinha o relatório, precisando que a dolarização informal da economia fez aumentar os preços, e que o salário mínimo e as transferências sociais em dinheiro não cobrem as necessidades básicas das famílias vulneráveis, especialmente de quem não tem acesso a moeda estrangeira.
O relatório explica que a covid-19 causou uma forte tensão no sistema de saúde, enquanto o limitado acesso inicial às vacinas condicionou a resposta do país, que tem agora 32,3% da população vacinada (duas doses).
"A atenção à covid-19 reduziu outros serviços de saúde essenciais, em particular de doenças crónicas, o acesso à saúde sexual e reprodutiva, e a vacinação regular", afirma o relatório.
A pandemia fez ainda aumentar as consultas de saúde mental e apoio psicossocial para crianças, adolescentes e prestadores de cuidados.
O encerramento de escolas afetou 6,8 milhões de estudantes no país e pelo menos 20% deles tiveram dificuldade em completar o ano letivo, principalmente crianças em áreas distantes, com deficiências e de comunidades indígenas.
Por outro lado, continuam os fluxos migratórios e o encerramento das fronteiras forçou os venezuelanos a utilizar rotas e travessias irregulares, aumentando os riscos de proteção, de tráfico de seres humanos e de violência baseada no género.
Em 2022 "é provável que as necessidades humanitárias continuem devido à situação económica e sociopolítica prolongada e ao impacto da covid-19", explica.
"O PIB da Venezuela deverá crescer 1% em 2022, após 8 anos consecutivos de contração (...) mas, as melhorias sustentáveis na economia dependerão dos progressos duradouros no diálogo político e da evolução das sanções internacionais", sublinha o relatório.
Nesse contexto, o financiamento humanitário continua a ser um desafio. A criação do Fundo Humanitário da Venezuela em 2020 mobilizou 14 milhões de dólares, sendo necessários 260 milhões de dólares para aumentar a resposta humanitária aos venezuelanos.