E de novo a pobreza e não há nada mais pobre do que ser apenas rico
“Quando vires a miséria e a injustiça, lembra-te de que o mundo existe apenas para que possas manifestar a tua bondade, e usa do dinheiro do bolso direito.” - Paulo Coelho A divisão actual do mundo em países ricos e em países pobres é mais grave e definitivamente mais explosiva do que a divisão do mundo segundo as ideologias. A pobreza, as epidemias, a fome e o analfabetismo, não somente insultam a dignidade humana, como também ameaçam a estabilidade dos governos, exacerbam as tensões e comprometem a paz internacional. Erradicar a pobreza e dar cultura ao homem pobre e inculto são as duas missões mais imperiosas que devem ser tomadas para resolvermos os males do mundo. A única prova concludente da sinceridade de um homem é a abnegação com que pessoalmente se sacrifica por um ideal. As palavras, o dinheiro, são coisas relativamente fáceis de dar. Mas quando um homem se dá diariamente a si mesmo, evidencia com isso que a verdade está nele. Um ideal: alcançar o mais alto nível humano, isto é, pôr em actividade o mais perfeita e constante possível, as faculdades que tornam o homem propriamente homem. Para o homem, a palavra de ordem não pode ser outra senão esta: saber mais e melhor, amar mais e melhor, realizar mais e melhor. Para o coração, a bondade é sempre atractiva, pois é preciso amar tudo quanto é bom. Se a fé é a substância das coisas que desejamos, a caridade é o único investimento que nunca falha. Ninguém logra a verdadeira grandeza se não está mais ou menos convencido de que a sua alma pertence à humanidade, e que tudo quanto Deus lhe concede, o concede para os seus semelhantes.
A caridade é uma união cujas raízes se encontram no nível da alma. Decorre da aproximação do homem à essência da vida e não depende de situações externas, psicológicas, sociais e culturais. Revela amor profundo e impessoal no contacto com os seus semelhantes e o faz quando o indivíduo não busca essa união fora de si, mas no seu mundo interior. A caridade não é forjada por decisões mentais nem apenas por desejos altruístas. Emerge espontaneamente à medida que a personalidade se alinha com a alma e esta começa a exprimir-se por intermédio da pessoa. E então torna-se possível transcender metas pessoais. O mais importante na vida de qualquer homem é a sua fortaleza interior. Como disse Albert Einstein, “a nossa tarefa deve ser libertarmo-nos da prisão pela amplificação do nosso círculo de compaixão, para abranger todas as criaturas vivas e toda a natureza em sua beleza”. A verdadeira caridade não provoca expetativas, não tem limites e produz resultados inusitados. É para ser vivida vinte e quatro horas por dia como serviço ao outro, à criação, ao planeta, ao plano evolutivo do homem. Quando há caridade, tudo flui em paz e equilíbrio. Ao buscarmos em tudo o bem do outro, a energia que antes gastávamos em atritos e individualismos pode dirigir-se para a nossa verdadeira tarefa: colocar na elevação da humanidade e do planeta. É o caminho do infinito que motiva, concretiza, sustenta e eleva a solidariedade. A solidariedade faz de cada um de nós um vigilante dos demais como irmãos. Basta que coloquemos o bem do próximo acima do nosso bem particular. No uso comum, o termo solidariedade denota adesão a uma causa, seja de um indivíduo em particular, seja de um grupo social, de uma nação ou até da própria humanidade. Para a verdadeira solidariedade não há limites. Como também não podemos estabelecer um limite para o amor, o que é perene e cintilante, não tem limites, pois podemos amplificá-lo até ao infinito. Aquilo que se dá com bondade, caridade e amor exuberantes, nunca se perde, converte-se em património espiritual da família humana. É na magnanimidade que o homem se eleva acima dos princípios acanhados da justiça. Da sua observância depende o progredimento espiritual da humanidade. O índice mais seguro do progresso humano e do altruísmo social, o melhor padrão para medir as alturas atingidas pelo homem, consistem no cumprimento ou não cumprimento dessa lei. A caridade generosa é que salva o mundo quando o homem, nas épocas de materialismo crasso, de aridez espiritual, apenas se guiam pelo princípio do «olho por olho» e medem os lucros pela fria e calculadora justiça, vazia de generosidade humana. Só a fervorosa actividade e amor poderão erguer o Universo, salvar a vida humana do atoleiro dos egoísmos e guindá-los aos cumes da grandeza de alma e nobreza de carácter.
Para unir é preciso amar. Para amar é preciso conhecer. Para conhecer é preciso ir ao encontro do outro. Nós, cidadãos, sentimos que não temos importância no modo com funciona a sociedade. Estamos no mundo para aliviar a dor dos outros. Com efeito, há mais humanidade no balcão de uma tasca do que nos salões literários. Esta Europa precisa de espiritualidade. A decadência duma sociedade começa quando as pessoas perguntam: o que é que vai acontecer? Em vez: que posso eu fazer! Por outro lado, a classe política dos nossos dias E desde sempre, como, por exemplo, Eça de Queiróz já retratava tão bem, prima por ser oportunista, incompetente, fria, calculista, sibilina, frívola, serpentina e distante em relação ao povo que governa e aos que nela votaram.
Com efeito, mais do que férias, os políticos portugueses precisam de um grande e profundo retiro espiritual. Muitos deles deviam ser compulsivamente colocados em casas de repouso para curar das suas maleitas, do seu basismo e do seu primarismo político. Já não há paciência nem parcimónia para aturar estes trastes da conversa e da loquacidade da treta. Eles pensam que são muito bons, quando na verdade não têm nenhuma demofília no coração nem na alma e nem no espírito. Não precisamos de meros e banais políticos. Precisamos, isso sim, é de estadistas! Onde estão eles? Em Portugal não vejo nenhum. E Portugal também é a Madeira e os Açores. Com gente desta laia estamos bem tramados. Eles apenas tapam buracos. Nós precisamos é de santos! De pessoas puras! De homens e mulheres com coração pulcro! De heróis da caridade! De pessoas dignas e íntegras! De pessoas impolutas! De pessoas bondosas e caridosas! De pessoas que se imolam por amor humano e por amor divino! O futuro do mundo é muito incerto e pouco risonho. Estes miúdos da era digital e do Homem 2.0 vão ter muito que sofrer na sua vida futura, pois vão ter uma vida muito pior do que a dos seus pais. Como compreendo os misantropos e a misantropia.
Que pode fazer um homem desesperado, quando o ar é um vómito e nós seres abjectos. O único Reino que faz de qualquer homem um rei é o Reino da sua própria alma. O único poder que tem qualquer significado é o poder para melhorar o mundo. Por outro lado, corroborando Gabriel Garcia Marquez, “um homem só tem direito a olhar outro homem de cima para baixo, se for para o ajudar a levantar-se”. Nada mais certo.