Estudo coloca em causa ligação entre aquecimento global e fome em Madagáscar
O aquecimento climático não teve nenhum papel na fome que grassa no sul de Madagáscar, ao contrário do que chegou a afirmar a Organização das Nações Unidas, indica um estudo publicado na quarta-feira, em Paris.
O estudo, que coloca em causa a ligação entre a pobreza e a variabilidade natural do clima, volta a trazer mediatismo à parte sul daquela ilha do oceano Índico, fustigada por uma seca inédita em várias décadas, que precipitou mais de um milhão de pessoas em subnutrição aguda.
Em junho, o Programa Alimentar Mundial (PAM) tinha relacionado esta crise de fome com o aquecimento global provocado pela atividade humana no mundo, uma causa sobre a qual insistem as autoridades de Madagáscar, e o presidente, Andry Rajoelina, chegou a queixar-se, em Glasgow, na recente cimeira sobre o clima, de que o país estava a pagar por algo em que não tinha participado.
No entanto, a ciência indica outra coisa, segundo o estudo do World Weather Attribution, rede de cientistas pioneiros em matéria de atribuição de acontecimentos naturais extremos às mudanças climáticas.
A quantidade de chuva que caiu nas monções entre 2019 e 2021 naquela ilha foi 60% inferior ao habitual, mas os cientistas asseguram que o aquecimento climático "não aumentou de maneira significativa a probabilidade de seca" no sul do país.
Esta conclusão vai ao encontro da avaliação dos especialistas do clima da própria ONU publicada em agosto deste ano.
Os cientistas não negam genericamente a ligação do aquecimento global com o aumento de eventos meteorológicos extremos, mas ressalvam que "é um fator, entre outros, por vezes importante, por vezes pequeno, ou por vezes nada significativo".