Regionalização
O leitor talvez ainda não se tenha apercebido que existe em Portugal, mais ou menos encoberta, a classe dos assanhados políticos regionalistas que há anos se acumulam em filas de espera para ocuparem os ansiados, futuros e bastante rendosos lugares de governantes, deputados, e administrativos (dotados de fina especialização arrelvada e socrática) de regional envergadura.
Por isso, é na altura das eleições que eles mais se empenham na promoção da muito cara, mal-amanhada dama (regionalização) que aspiram ser de sua companhia quotidiana nos palacetes onde assentarão pouso, ostentação e desfrute, uma vez que se vejam na contingência de ficarem na situação de despedidos dos seus postos de comando ou de exercício de funções nos domínios do Poder.
O facto de as eleições implicarem o desconforto de substituições nos cargos a muitos desses propagandistas da regionalização, dá-lhes pretexto e oportunidade para fazerem soar as trombetas de exaltação regionalista.
É que se estivesse instituída a regionalização é certo que os seus arautos uma vez desligados das actuais funções nos aparelhos estatais logo, de imediato, se transferiam para os gabinetes regionais assim assegurando, sem complicações processuais, a continuidade dos seus rendimentos/vencimentos. Demonstrando, sem esforço, quanto são previdentes artistas e muito sabem assegurar um futuro de bem-aventuranças à custa dos contribuintes do Erário.
Entre os políticos mais destacados nessa porfia de assegurar o futuro através do exercício de putativo lugar de primeiro-ministro regional, tem preponderância o Dr. Manuel Machado, recém- derrotado presidente da Câmara Municipal de Coimbra.
Há vários anos que Dr. Manuel Machado, conhecido maçon de Coimbra, se empenha afincadamente em promover a regionalização. Mesmo hoje, aqui em Aveiro, no Congresso da Associação dos Municípios Portugueses, ele fez a derradeira tentativa de conseguir a aprovação da famigerada regionalização da sua tão avassaladora apetência; ao colocar a discussão e aprovação do tema num ponto da Agenda do Congresso.
Alvitro que qualquer que seja o resultado da votação sobre a Regionalização, a classe dos regionalistas promova um jantar de homenagem ao Dr. Manuel Machado; pois que ele se muito batalhou em prol de auspiciosa futura vidinha como chefe de um Governo Regional de Coimbra; também, implicitamente, esteve zelando pelos interesses conexos com os aproveitamentos das funcionalidades regionais por parte dos inquietados membros da referida classe dos regionalistas.
Devo informar os leitores que se acontecer o almoço de aplauso a Dr. Manuel Machado ele não terá a minha concordância; visto que reprovo convictamente a Regionalização por ela potenciar um custo enorme, agravando imenso o défice do ORÇAMENTO, ser um espaço de clientelismo partidário e, notoriamente, descabida numa nação de tradições municipalistas.
Em Portugal, a Regionalização seria uma muito onerosa e repugnante aberração institucional. Só justificada em satisfação de quantos se revêem num reino de bicharadas ávidas de criação e usufruto de “tachos”.
As câmaras municipais são órgãos do Poder Local bastante próximos dos cidadãos, suficientes e razoavelmente operativos nos desempenhos da Administração Pública, e mais capazes de cooperar eficazmente com o Poder Central no prosseguimento de uma genuína e eficaz política de progresso e de harmonização territorial do país.
Exemplo concludente de boa articulação e de profícua colaboração entre o Poder local (autarquias) e o Poder Central tivemo-lo nos meados do século XX, com a excelente funcionalidade dos Planos de Fomento.
Tudo que se disser em contrário será uma indecente desvirtuação da realidade histórica em que Brasilino Godinho teve parte participativa na sua modesta condição de funcionário da ex-Direcção Geral dos Serviços de Urbanização e que testemunhou de forma atenta e continuada através dos anos em que houve operacionalidade dos Planos de Fomento. Reitero: eles, de boa memória!
E cuja memória muito reforça a determinação de Brasilino Godinho se opor terminantemente à fantasiosa e absurda regionalização de um pequeno território continental que é, no contexto europeu, uma pobre e bastante endividada média região, situada na extrema periferia ocidental da Europa.
Brasilino Godinho