UNESCO inscreve caligrafia árabe e sopa haitiana na lista de Património Mundial
A caligrafia árabe e a sopa de abóbora haitiana Joumou foram declaradas Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, num total de 43 candidaturas de vários pontos do mundo, incluindo Portugal, que foram aceites, divulgou quinta-feira aquele organismo.
Estas classificações foram atribuídas no âmbito da 16.ª reunião do Comité Intergovernamental da UNESCO para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que decorre em Paris, e que já tinha declarado na quarta-feira, como Património Cultural Imaterial, as Festas do Povo de Campo Maior, no distrito de Portalegre.
O Comité da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) inscreveu quatro tradições na lista de que alerta para a necessidade urgente de preservação e outras 39 candidaturas na lista do Património Imaterial.
Entre as tradições aprovações, após a reunião que decorreu hoje em Paris, destaca-se a sopa haitiana Joumou, feita com abóbora, vegetais, banana, carne, massa e temperos, símbolo da liberdade do país das Caraíbas, quando se tornou independente de França.
Esta candidatura estava prevista para 2022 mas foi excecionalmente incluída à última da hora este ano, noticia a agência EFE.
"O pedido de inscrição da sopa Joumou é comovente, visto que o Haiti enfrenta inúmeros desafios, incluindo os desastres naturais que afetam drasticamente o dia-a-dia da população. As autoridades do país queriam fazer esta inscrição e contribuir para o reacender do orgulho nacional", sustentou a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay.
A caligrafia árabe, entendida como a arte de transcrever com fluência o alfabeto da língua árabe para conferir harmonia, elegância e beleza à escrita, foi também alvo de homenagem esta semana, numa candidatura apresentada por 16 países árabes.
A UNESCO destacou a variedade de materiais naturais utilizados na caligrafia tradicional, como o cálamo, feito a partir de canas, a tinta, feita com uma mistura de mel e açafrão, com o negro do fumo, ou o papel, feito à mão e tratado com amido, clara de ovo e pedra de alúmen.
A inscrição da deteção e extração de trufas em Itália foi também aprovada hoje, uma tradição que se transmitiu oralmente durante séculos e, atualmente, continua a ser um elemento muito importante na vida de muitas comunidades camponesas daquele país, referiu a UNESCO.
Este género de fungo, que se encontra enterrado no solo, é normalmente detetado com a ajuda de um cão treinado, e a sua extração requer uma vasta gama de conhecimentos climáticos, ambientais e botânicos.
Também foram homenageadas as embarcações tradicionais dos povos nórdicos, que incluem os indígenas Sami da Finlândia, Noruega e Suécia, além da minoria Kven da Noruega ou o Tornedalian da Suécia, que construíam estas embarcações há dois milénios.
A rumba congolesa também foi declarada Património Imaterial, numa candidatura conjunta de duas nações diferentes, a República do Congo e República Democrática do Congo.
Uma candidatura conjunta de 23 países da Europa, onde se incluí Portugal, Ásia e África sobre a antiga arte da falcoaria com falcões também integra agora a lista.
As Festas do Povo de Campo Maior, no distrito de Portalegre, foram também classificadas como Património Cultural Imaterial da Humanidade.
A candidatura à UNESCO foi promovida pela Câmara e Associação das Festas do Povo de Campo Maior (AFPCM) e a Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e Ribatejo, com o apoio da Direção Regional de Cultura do Alentejo.
Tradição secular e realizadas pela última vez em 2015, as Festas do Povo de Campo Maior são conhecidas por apresentarem dezenas de ruas, sobretudo no centro histórico, 'engalanadas' com milhares de flores de papel, feitas pela população de forma voluntária.
A lista da UNESCO voltou a destacar a América Latina, através da Fiesta Grande de Tarija, da Bolívia, que acontece na cidade de mesmo nome, localizada no sudeste do país, e é celebrada todos os anos nos meses de agosto e setembro em homenagem a São Roque, destacando-se pelas vestimentas com máscaras e fantasias coloridas, músicas, danças e decorações em templos ou ruas.
Do Equador, o vencedor foi "El Pasillo", género musical e de dança que surgiu naquele país no século XIX, na época das guerras de independência da América do Sul, resultado da fusão de várias músicas indígenas.
No vizinho Peru foi inscrita na lista a milenar arte da olaria do povo Awajún do norte do país, paradigma da sua relação harmoniosa com a natureza, e de decorações com formas geométricas inspiradas em elementos da natureza.
Na Venezuela, foram premiadas as práticas e saberes culturais vinculados ao ciclo de celebrações em homenagem a São João Batista, datado do século XVIII e originário das comunidades afro venezuelanas escravizadas, durante o domínio colonial espanhol.
Já o Panamá conseguiu registar a celebração do corpo e sangue de Cristo crucificado, a Festa do "Corpus Christi", uma fusão das celebrações religiosas da Igreja Católica com uma série de práticas culturais populares, com teatro, música, dança popular ou grupos de pessoas disfarçados com máscaras e vestimentas coloridas.
Esta distinção de Património Cultural Imaterial da Humanidade já conta com mais de 500 tradições dos cinco continentes e facilita o acesso destas a apoios ou permite uma maior visibilidade internacional.