Guterres classifica 2021 como "um ano difícil", com pandemia, desigualdade e outros desafios
O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou hoje 2021 como "um ano difícil", com a continuação da pandemia de covid-19, a desigualdade, a injustiça global, a falta de vacinas para os países pobres e os conflitos.
Guterres emitiu estas declarações na sua entrevista de fim de ano, concedida de forma virtual à imprensa e publicada no 'site' ONU News, antes de iniciar o seu segundo e último mandato no cargo, a 01 de janeiro de 2022.
O responsável máximo das Nações Unidas apontou também outros fatores de dificuldade patentes este ano, como "o fardo cada vez mais pesado sobre países em desenvolvimento, a falta de recursos para a recuperação da pandemia, a inflação galopante e o aumento da dívida externa de muitas nações".
O líder da ONU sustentou igualmente que o mundo continua sem dar uma resposta adequada à crise climática, que indicou como outro fator amplificador da desigualdade e injustiça globais, observando que se não se registar uma melhoria rápida nesse âmbito, o mundo verá dias piores em 2022.
Segundo Guterres, é já claro que a covid-19 "não vai acabar" e que somente a vacinação não será suficiente para erradicar a pandemia, porque embora as vacinas estejam a evitar internamentos e mortes da maioria dos infetados, a transmissão prossegue a todo o vapor.
A falta de vacinas e a complacência são as causas da crise sanitária, considerou, referindo que ainda hoje a ONU divulgou uma atualização do plano de resposta à pandemia, que inclui todo o sistema da organização, cuja proposta era imunizar 40% da população mundial até ao fim do ano e 70% até meados de 2022.
No entanto, a apenas alguns dias do prazo, 98 países ainda não conseguiram alcançar a meta e 40 não vacinaram sequer 10% da população. Até 13 de dezembro, apenas 20 países africanos tinham vacinado 10% da população, referiu.
Em países de baixo rendimento, menos de 4% dos cidadãos receberam as duas doses da vacina contra a covid-19, ao passo que nos países de rendimento elevado, as taxas de vacinação são oito vezes mais altas que no continente africano, precisou, observando que, ao ritmo atual, África deixará passar o prazo de vacinação de 70% dos seus cidadãos até 2024.
Defendendo que não se pode derrotar uma pandemia de forma descoordenada, Guterres apelou para "ações coordenadas dos países nos próximos dias".
Ao falar dos efeitos da pandemia sobre a economia, o responsável disse que 28% do Produto Interno Bruto (PIB) de economias avançadas foram mobilizados para a recuperação económica, ao passo que nos países de rendimento médio essa taxa é de 6,5% e cai para 1,8% nos de baixo rendimento.