As vidas dos outros
Na infância não é incomum que crianças inventem amigos imaginários. Na adolescência há namoros que só existem nas conversas entre amigos. Na idade adulta há feitos reclamados sem nunca terem acontecido. São ilusões reais, vividas com(o) uma verdade que conforta os seus criadores. Identificar uma pessoa real próxima e associá-la aos nossos estados de alma é um exercício simples e fácil. O amor que vivemos com os nossos filhos, a admiração que construímos pelos nossos pais, aquela amizade que vem dos bancos da escola, a camaradagem forjada nas provações e superações partilhadas.
Hoje a minha proposta é também ligar uma pessoa real a emoções e sentimentos recorrentes da nossa vida. Mas no sentido contrário ao dos exemplos em cima enumerados. Invoque o “fantasma” de alguém real, seu conhecido, próximo (de preferência), que efectivamente já não esteja entre nós, que tenha partido cedo demais. De cada vez que for invadido por sentimentos de injustiça divina lembre-se que o seu “fantasma” agradeceria ter a vida que é sua. Se resvalar para a auto-comiseração agradeça as oportunidades que tem e que não puderam ser sequer desperdiçadas pelo seu “fantasma”. É mais fácil declinar o convite, mas experimente. Não perde o direito a queixar-se.