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Jornalistas presos por causa da profissão aumentam 20% em 2021 para máximo de 488

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Foto Shutterstock

O número de jornalistas presos devido à atividade profissional aumentou 20% em 2021, para 488, o valor mais alto registado desde 1995, ano da criação do relatório anual da Repórteres Sem Fronteiras (RSF), foi hoje anunciado.

"Nunca, desde a criação do relatório anual da RSF em 1995, o número de jornalistas presos foi tão alto. Em meados de dezembro de 2021, a RSF registou 488 jornalistas e colaboradores de meios de comunicação atrás das grades por causa da sua profissão, o que representa um aumento de 20% em relação ao ano anterior", deu conta a organização.

No mesmo sentido, nunca antes a RSF tinha registado tantas jornalistas mulheres presas, que são atualmente 60, mais 33% do que no ano passado e 12,3% do total de jornalistas presos.

Para o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire, "a subida histórica do número de jornalistas em detenção arbitrária resulta de três regimes ditatoriais".

"É um reflexo do fortalecimento das ditaduras no mundo, de um acúmulo de crises e da falta de escrúpulos desses regimes. Também pode ser o resultado de novas disputas geopolíticas de poder, onde os regimes autoritários não sofrem pressão suficiente para limitar a repressão", apontou o responsável.

A China, que continua a ser o país com maior número de jornalistas presos pelo quinto ano consecutivo, é também onde o maior número de mulheres estão detidas (19), incluindo a vencedora do prémio RSF 2021, Zhang Zhan, "em estado crítico de saúde".

Na Bielorrússia, estão mais mulheres (17) detidas do que homens (15), entre elas, as duas repórteres do canal de televisão independente Belsat, Daria Tchoultsova e Katsiarina Andreyeva, condenadas a dois anos de prisão por terem transmitido ao vivo uma manifestação não autorizada.

Já na Birmânia estavam, em meados de dezembro, nove mulheres atrás das grades, de um total de 53 jornalistas e colaboradores detidos.

Um dos indicadores a destacar é a diminuição de jornalistas mortos, que, segundo a RSF, totalizou 46.

Trata-se da primeira vez desde 2003 que o número de jornalistas mortos fica abaixo dos 50, realçou a organização, que justifica a descida com a diminuição da intensidade de conflitos que marcaram anos anteriores (Síria, Iraque, Iémen) e a maior mobilização em defesa da liberdade de imprensa

Ainda assim, em média, um jornalista por semana é morto por exercer a sua profissão, sendo que, segundo a RSF, em 65% dos casos, os jornalistas foram deliberadamente assassinados.

O México e o Afeganistão são novamente os dois países mais perigosos este ano, com sete e seis mortos, respetivamente, enquanto o Iémen e a Índia dividem o terceiro lugar, com quatro mortos cada.

A RSF destacou ainda alguns dos casos mais significativos do ano, como os dos jornalistas Ali Aboluhoom e Pham Chi Dung, condenados a 15 anos de prisão na Arábia Saudita e no Vietname, respetivamente.

Destacam-se também os casos de Amadou Vamoulké e Ali Anouzla, nos Camarões e em Marrocos, de Jimmy Lai e Kayvan Samimi Behbahani, em Hong Kong e no Irão, que são os presos mais velhos com 74 e 73 anos e, por fim, o caso do francês Olivier Dubois, o único jornalista estrangeiro sequestrado este ano, no Mali, ainda nas mãos dos captores.

Desde 1995, a RSF elabora um relatório anual dos abusos cometidos contra jornalistas, com base em dados precisos estabelecidos entre 01 de janeiro e 01 de dezembro do ano de publicação.

A contagem total do relatório de 2021 inclui jornalistas profissionais e não profissionais, bem como colaboradores de meios de comunicação.

"A RSF faz uma recolha minuciosa de informações que permite afirmar com certeza, ou pelo menos com forte presunção, que a detenção, o sequestro, o desaparecimento ou a morte de um jornalista é uma consequência direta do exercício de sua profissão", aponta a organização.