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O cavalo ou o porco?

O eterno equilíbrio entre a saúde e a economia só funciona com uma boa dose de bom senso

Um indivíduo tinha muitos cavalos, alguns dos quais puros-sangues, que o tornavam referência no seu meio. Um dia, um dos seus favoritos apareceu muito debilitado. O veterinário alertou que havia fortes probabilidades de o animal acabar da pior forma. Para debelar o mal, prescreveu um tratamento, findo a qual, o animal sobreviveria ou seria abatido para não disseminar o mal.

O porco amigo, desde a primeira hora, passava parte da sua vida a animar e incentivar o cavalo a esforçar-se para superar a maleita.

A verdade é que, antes de acabar o tratamento, o cavalo tinha recuperado e nem parecia o mesmo. O agricultor, entusiasmadíssimo e feliz com a situação determinou:

- Vamos celebrar a recuperação do meu cavalo favorito. Matem o porco!

Neste momento pandémico que vivemos, às vezes tenho a impressão de que há uma irresponsabilidade crónica que se repete nos momentos críticos. Já acreditei na informação que era oficialmente veiculada. Entretanto, tomei conhecimento de situações em que foram detectados contactos com infectados e de que resultaram soluções diferentes: uns contactos dos contactos ficaram sujeitos a confinamento e outros continuaram a sua vida porque eram contactos de contactos… Gostava de acreditar, mas não me merece confiança este critério. Nem as limpezas das narinas, a que chamam testes antigénio… E, a partir daqui, quanto às estatísticas oficiais estamos conversados.

O ano passado, por esta altura, foi decidido “abrir” as portas, os braços e a liberdade de toda a gente, porque o Natal era o Natal… As tradições, a família, os convívios, a ida aos mercados, as sandes de carne de vinha d’alhos, a Noite do Mercado, etc. etc… O mês de Janeiro foi um desastre. No dia 30/01/2021, a RAM registava 2007 casos activos!

Este ano, quer a nível internacional, quer a nível nacional e até regional, algumas entidades públicas já determinaram que as festividades vão ser mais restritas, mais condicionadas, e, até mesmo, canceladas.

Mas, a outras instâncias, foi determinado que haverá Festa! Vai haver Noite de Mercado (a maior concentração natalícia), com acessos controlados… Como? Quem controla o povão nas ruas, nos arredores? Muitos levam os seus alforges municiados com a carne de vinha d’alhos, com os licores e ponchas e vão conviver, uns com máscaras e outros sem elas, mas muitos, mesmo muitos, com o distanciamento que as circunstâncias determinarem, encostados, abraçados, brindando.

Esperemos que não seja necessário matar o porco em Dezembro e abater o cavalo em Janeiro. O eterno equilíbrio entre a saúde e a economia só funciona com uma boa dose de bom senso. E, segundo DN de 9/12/2021, já estamos no patamar mais grave do mapa europeu de viagens.

A todos, um feliz e bom Natal, sobretudo, com saúde e muito sentido de responsabilidade.