Madeira

Greve paralisa engarrafamento na Empresa de Cervejas da Madeira

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O engarrafamento na Empresa de Cervejas da Madeira (ECM) parou hoje, pela primeira vez, devido à greve de dois dias realizada pelos trabalhadores, que reivindicam aumentos salariais no âmbito das negociações do Acordo de Empresa, informou o sindicato.

"Pela primeira vez o setor de fabrico e enchimento está completamente parado desde o início do turno, às 07:00, e a distribuição, no que concerne a trabalhadores da empresa, está a ser feita apenas a 50%", disse à agência Lusa o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (SINTAB) Fernando Rodrigues.

A greve convocada pelo SINTAB teve início às 00:00 de hoje e juntou, segundo o coordenador, "mais de 40 trabalhadores à porta da empresa", embora, dado o funcionamento por turnos, "só depois das 15:00 seja possível fazer o balanço da adesão" à paralisação, que irá prolongar-se até às 24:00 de quinta-feira.

Em causa estão as negociações da revisão do Acordo de Empresa (AE), com os trabalhadores a acusar a administração da ECM de "se recusar a negociar aumentos salariais, prometendo apresentar uma proposta em março de 2022", disse Fernando Rodrigues.

De acordo com o sindicato, os trabalhadores "não tiveram aumentos salariais em 2019 nem em 2020", tendo a ECM alegado "quebra de vendas" neste último ano, "a pretexto da pandemia".

Perante o impasse nas negociações, os trabalhadores decidiram em plenário, realizado em 18 de novembro, iniciar uma greve ao trabalho extraordinário e avançar agora com uma greve de dois dias, reivindicando um aumento salarial de 90 euros, a redução de horário de trabalho semanal de 40 para 35 horas e 25 dias úteis de férias para todos os trabalhadores.

"Não faz sentido uma empresa que está em expansão no mercado internacional, nomeadamente na China e na Venezuela, recusar-se a atualizar salários e pagar elevadas quantias em horas extraordinárias, quando o volume de trabalho obriga a que os trabalhadores tenham que fazer horas aos sábados e feriados", disse Fernando Rodrigues.

Contactado pela Lusa, o presidente do conselho de administração da ECM, Miguel Sousa, confirmou "a paragem e alguns atrasos no engarrafamento durante a manhã", mas desvalorizou o impacto para a empresa, que "tem stock para vários meses - e não é uma paralisação de dois dias que vai fazer diferença".

De acordo com o administrador, "só três delegados sindicais e 14 funcionários" estão em greve na empresa, cuja administração "tem participado nas reuniões na Direção Regional de Trabalho e se comprometeu a prosseguir as negociações no início do ano".

"O Acordo de Empresa é uma coisa que interessa a todos e não apenas aos trabalhadores", sublinhou Miguel Sousa, considerando que "esta é uma greve fora de tempo e um espetáculo político desnecessário, em véspera de eleições, quando vale tudo".

O administrador sublinhou ainda haver "abertura da empresa para chegar a um consenso", lembrando, no entanto, que "há um ano e meio não se sabia se a empresa ia sobreviver, com todos os clientes de portas fechadas e sem se saber se haveria necessidade de despedimentos".  

A evolução da pandemia de covid-19 "já permite acreditar na sobrevivência, mas a empresa não voltará ao normal antes de 2024", disse, sublinhando que "não é tempo de reivindicações".

A Empresa de Cervejas da Madeira, Lda, que em 2022 completa 150 anos, é a maior empresa regional de produção e distribuição de bebidas na Região Autónoma da Madeira. Fabrica, comercializa e distribui marcas próprias de cervejas, refrigerantes e águas, representando ainda marcas noutras categorias como bebidas espirituosas, vinhos, sumos e néctares, águas, leites, azeites, vinagres e molhos.

A empresa faz parte do Grupo Pestana.