Crónicas

Sem maioria absoluta é mais do mesmo

E se o CDS fizer oposição a eventual governo liderado por Rui Rio, como vota o centrista regional eleito na lista do PSD? Afinal o PSD pode introduzir um “cavalo de Tróia” do CDS na Assembleia da República.

As eleições no PSD trouxeram uma nova dinâmica e motivação para Rui Rio. É como se tivesse ganho um jogo treino nas vésperas de um grande derby. Nada melhor que as eleições internas para antecipar o arranque da campanha eleitoral, preparar a “máquina” operacional e respectiva logística, por todo o país.

E correu bem. Rio fez, tanto o partido como o país, ficarem a saber que é o legítimo líder do PSD e que não tem sombra interna que o atrapalhe.

E revelou-se um bom candidato a primeiro ministro, coisa que não tinha conseguido até aqui.

Pelos vistos não tentará reunir as bases, muito menos a nomenclatura partidária. Afastar todos os que foram contra si nesta campanha interna é uma atitude que pode ser “avisada” mas não o beneficia a médio prazo, sobretudo se não ganhar as eleições legislativas. Haverá, imediatamente a seguir, uma oposição interna feroz para o deitar abaixo. Ninguém sai do PSD por ser desprezado por um líder. Apenas ficam a aguardar o seu primeiro momento de fraqueza. Não ganhar ao PS, por exemplo.

Acredito que vencerá.

A não coligação com o CDS é já a demonstração de força e inteligência, coisas geralmente difíceis de juntar.

Só os fortes são vitoriosos. E estes não se aliam com fracos em fim de vida.

O final do CDS é resultado de todo um trajecto partidário penoso e desgastante. Viveu de duas personalidades, Diogo Freitas do Amaral e Paulo Portas, e finou-se na liderança de uma rapariga simpática e num grupo de “young boys” sem qualquer preparação política e credibilidade pública. Nem sei se os podemos chamar de bons rapazes ainda que incapazes. Um RIP anunciado.

E o PSD pode-se afirmar como um grande partido ao centro e moderado, agora livre do estigma de associado ao partido que foi refúgio dos que já não podiam votar na saudade do antigo regime. Para os patriotas que recusam tanto a esquerda como a direita do “tudo ou nada” então têm o PSD de sempre que bem pode acolher o seu voto com utilidade para uma boa solução para o país. Espalhar votos por partidos inconsequentes impedirá maioria absoluta indispensável a governação estável.

Com esta onda vitoriosa do PSD passámos a acreditar que é possível ganhar, sonhando com uma necessária maioria absoluta que dê esperança aos portugueses.

O partido socialista joga tudo na maioria absoluta. Sabe muito bem que não é amado à esquerda e é desprezado pela direita. Está na situação de não ter com quem fazer governo se apenas for o mais votado. Para António Costa ser primeiro ministro precisa da maioria absoluta dos deputados.

Por mais que faça não lá chega.

O PSD, sem o CDS, pode reunir os votos dos que pensam e esperam que Portugal pode ter um governo competente e dedicado ao maior problema do país: salários baixos. O CDS dos patrões fica bem de fora dessa discussão. Não faz parte da equação social.

Subir salários é coisa que o PS, tanto de António Costa e muito menos da sua alternativa interna chamado Pedro Nuno Santos, não consegue. O PS + BE + PCP governam para salários iguais mas por baixo da miserável média nacional. Não conseguem crescimento económico porque querem distribuir antes de produzir.

Ao contrário, o PSD, agora liberto de “contras” e na circunstância de reunir estabilidade política para um programa de “temos de dar salários prósperos aos portugueses”, pode muito bem governar para esse objectivo.

Pedro Passos Coelho já mostrou que se pode ser exigente na governação e ser o mais votado nas eleições seguintes. Cavaco Silva teve a primeira maioria absoluta após uma governação sem maioria mas bem ilustrativa do que seria se com maioria absoluta. Teve-a. O povo sempre correspondeu a competência e seriedade.

O que o PS não mostra ter nem alguém nisso acredita.

E Rui Rio pode fazer acreditar, nessa linha de acerto e virar de ciclo rumo ao mais importante: subir salários. Se houver produtividade e competitividade.

Rui Rio deve ter um único compromisso eleitoral : fazer crescer os salários dos portugueses, explicando com a sua habitual franqueza o que temos de fazer para que isso venha a acontecer ainda nesta geração.

A Irlanda de mais pobre que Portugal passou a ter o dobro do PIB e mais do dobro do salário médio. A República Checa acaba de nos ultrapassar. Outros estão próximos de o conseguir. Caminhamos para o fundo do poço e não vamos lutar contra isso ?

Os portugueses desconhecem a realidade e tudo deve ser feito para inverter essa “ignorância” colectiva conseguida à custa de muita propaganda falsa e suja.

Se Rio tem governo competente já preparado então prometa números de crescimento económico concretos e respectivas melhorias salariais. Faça como nos países civilizados. Não espere pela derrota de Costa. Lute pela vitória do PSD.

O resto é conversa fiada.

Legislativas na Madeira

Tenho como momento lamentável da Autonomia o castigo aplicado, no mandato de Passos Coelho, aos deputados madeirenses do PSD na Assembleia da República. O motivo foi o de terem votado diferente da orientação da bancada do PSD sobre indiscutível assunto de interesse regional: a resolução do Banif. Os deputados estiveram três meses sem direitos como militantes no partido e Sara Madruga foi destituída do cargo de vice-presidente do grupo parlamentar. Uma mancha na democracia autonómica que não se pode repetir. Os nossos deputados votaram segundo o interesse regional que juraram defender. Estavam politicamente obrigados a isso. Primeiro sempre a Madeira.

Nestas próximas eleições torna-se crucial termos a certeza absoluta que o compromisso dos deputados eleitos do PSD é com a Madeira e que daí ninguém cede. Com estes candidatos do PSD sei que assim será.

E com o candidato do CDS colocado em quinto lugar na lista do PSD ?

Se o PSD tiver o resultado eleitoral que antevejo, serão eleitos quatro deputados do PSD. Se a eleição correr muito bem o quinto poderá ter chance. E, nesse caso, introduziríamos um “cavalo de Tróia” do CDS na Assembleia da República. E a questão que se precisa garantir é se existe compromisso escrito que o seu voto será sempre de acordo com a orientação de Miguel Albuquerque. E se o CDS fizer oposição a eventual governo liderado por Rui Rio como vota o centrista regional ? E se o PSD apoiar governo de António Costa, com o CDS certamente contrário a essa solução, então de que lado estará o deputado do CDS eleito pela Madeira na lista do PSD ? É uma situação insólita que exige clarificação. Porque muita coisa poderá ser decidida por diferença de um deputado.

O cúmulo seria Rui Rio ter de fazer acordo de governo com um deputado do CDS eleito na lista do PSD da Madeira.

Mercadinho de Natal

Será que a Secretaria do Turismo convidou os comerciantes da baixa do Funchal para as barracas da “placa central”, afinal de tudo os únicos e grandes prejudicados com o Mercadinho? Os únicos que pagam rendas, impostos e salários todo o ano!

Taxas portuárias

Na discussão do orçamento os partidos da oposição exigiram taxas portuárias no Porto do Caniçal. A ideia parece excelente mas tem um senão: é preciso dizer quem vai pagar e quanto será o aumento dos fretes e demais custos de transporte marítimos para cobrar novas taxas portuárias. Está em causa o aumento do custo de vida regional e a competitividade nas exportações. O PS não é sensível a isto?

A isenção das taxas portuárias funciona como um subsídio, não publicitado, às importações e exportações, e não como um bónus aos navios.