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PNA e a escolha da especialidade médica

Já alguma vez se questionou: “como é que os médicos escolhem a sua especialidade?”. Ora, a resposta a esta pergunta é: Prova Nacional de Acesso, mais conhecida pela sua sigla PNA.

A PNA corresponde a um exame de seriação (ou seja, define apenas a ordem de escolha para a especialidade, sendo o primeiro a escolher o candidato que obtiver a nota mais elevada, e assim sucessivamente). São cento e cinquenta questões, respondidas em duas partes, cada uma com duas horas de duração. A PNA veio a substituir o chamado “Harrison”, o anterior exame de seriação. Esta prova acontece apenas uma vez por ano, habitualmente a meio de Novembro.

Para esta prova, os candidatos à especialidade devem estudar uma extensa matriz, com várias áreas da Medicina, como cardiologia, pneumologia, cirurgia geral, pediatria, ortopedia, psiquiatria, entre outras. Habitualmente os candidato preparam-se durante um ano para a sua realização. Depois, no exame, são colocadas cento e cinquenta questões, com cento e cinquenta cenários clínicos diferentes… alguns mais fáceis, outros mais difíceis, mas apelando ao raciocínio clínico, o que é excelente. No entanto, o grande problema desta prova é que em nada define a competência do candidato enquanto médico e, sobretudo, enquanto futuro especialista.

Se formos a ver bem, cento e cinquenta questões, a responder em quatro horas (tempo total do exame) dá uma média de um minuto e trinta e seis segundos por pergunta. Nenhum médico, mesmo o melhor do mundo, avalia um doente em tão pouco tempo! Isto faz com que algumas questões sejam mal lidas, ou necessitem de ser relidas, escapando muitos pormenores importantes para a solução do caso e gestão do doente, por falta de tempo. Isto, depois, faz toda a diferença na escolha da especialidade… Menos uma questão correta, menos um ponto, poderá significar a não entrada na vaga da especialidade sonhada. Vaga essa que, em muitos casos, é ocupada por um colega que até não a queria, por não se sentir tão à vontade, mas devido ao facto de não ter conseguido entrar na vaga que queria, assim a escolheu. Poderia agora refutar o que disse com um “mas se não quer, não escolhe, e faz novamente o exame”. Pois podia, mas é precisamente o facto de não querer realizar novamente este exame que faz com que situações como esta aconteçam.

Porque não fazemos como outros países? Na Alemanha, por exemplo, a selecção para uma vaga de especialidade é feita através de uma entrevista. O médico recém-formado candidata-se a uma determinada especialidade, num determinado hospital, e faz uma entrevista de emprego, como muito provavelmente o leitor já fez… No Brasil, o médico recém-formado candidata-se a uma determinada especialidade, num determinado hospital, submetendo-se ao exame do hospital para aquela especialidade… Não seria melhor? Assim teríamos a certeza que o médico que o atende queria, desde sempre, a especialidade pela qual está a ser consultado.

O único aspeto positivo da PNA é cimentar, ou complementar, o conhecimento transmitido pela escola médica, porque qualquer médico deve ter um mínimo de conhecimento de todas as áreas. Como forma de escolha da especialidade, é péssimo, porque, repetindo o que escrevi acima, em nada define as competências do candidato enquanto médico e, enquanto futuro especialista. Apesar de não ser, podemos considerar que a PNA é aquilo que define o que o médico realizará o resto da sua vida.