Análise

Um líder não anda aos ziguezagues

Se alguns ouvissem os conselhos de Gouveia e Melo seriam credíveis e eficazes

O Vice-Almirante Henrique Gouveia e Melo deu uma aula sobre liderança e comunicação no memorável jantar das ‘500 maiores’ deste ano. Os conselhos, transmitidos de forma simples e perceptível, transportam-nos para o patamar essencial, para a eficácia das decisões destemidas, para a confiança que gera envolvimento e participação e para os valores inegociáveis.

Dos mesmos ensinamentos cada um retém o que lhe aprouver. Ou o que acha fazer falta na sua dimensão mais colectiva. Registo o apelo a uma liderança que não só tem que ser entendida, como deve assentar em conceitos muito funcionais. Na prática, “um líder tem que saber o que faz”, coisa bem distinta de quem anda aos ziguezagues e baralha toda a gente. “Um líder tem que ter uma visão macro baseada em valores”, de modo a conseguir convencer as pessoas em contextos em que muitos problemas são resolvidos sem ética. “Um líder dá o exemplo” se é que quer convencer as pessoas da bondade das suas intenções e transmitir ânimo às tropas. “Um líder tem que ser coerente e assertivo, mas acima de tudo ter coragem para decidir”, dimensão ausente da administração pública, ainda sem consciência que “pior do que errar, é não fazer nada”.

Henrique Gouveia e Melo voltou assim a mostrar-nos os caminhos que importa percorrer sem sobranceria, quando confrontados com apelos quase transcendentais, porventura momentaneamente ignorados pelos que cedem com facilidade ao favor e à balda, à fatalidade e ao desencanto.

Valeu a pena termos mantido o registo que nos desperta para a escuta activa e fundamentada. E ouvir atentamente uma das personalidades do ano em Portugal, porventura a menos provável, mas comprovadamente a mais necessária, é também uma forma de agradecer o seu contributo decisivo para que o País surgisse no mapa global pelas melhores razões.

Obrigado pois por ter liderado com mestria a ‘task force’ da vacinação que colocou Portugal com taxas acima dos 80%, e a ser respeitado e olhado com admiração. Por ter devolvido organização à atabalhoada máquina estatal e colocado a disciplina militar ao serviço da sociedade, tornando útil e irrepreensível uma instituição lançada para a lama à conta de episódios menos dignos. Por ter ajudado a vacinar todo um País e a dignificar a vida. Por envolver todos os portugueses na oportunidade de travar uma dura batalha que continua no terreno e a precisar de cada um de nós. Por nos ter reavivado a memória e ensinado a lutar contra o tempo, contra o desassossego instalado e contra os insultos sem nexo. Por honrar as grandes causas, com a humanidade e a humildade que faz com que seja um exemplo a seguir. Por ser paciente e generoso ao ponto de partilhar inquietações que, com certeza, contribuem para melhorarmos a nossa existência colectiva e motivarmos mais uns quantos para a excelência e para a ambição. Não admira que alguns entendam que Gouveia e Melo é desde já um presidenciável com sérias possibilidades de pôr em sentido os líderes do costume, bem mais comentadores do que fazedores.