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Lula diz esperar que América do Sul viva nova onda de governos progressistas

Foto EPA/LUCA PIERGIOVANNI
Foto EPA/LUCA PIERGIOVANNI

O ex-Presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva disse na quinta-feira desejar que a América do Sul viva uma nova onda de governos progressistas, durante uma visita à Argentina.

"Espero que venha uma segunda onda de governos progressistas, porque o melhor momento económico, político e social da América do Sul foi quando os países eram governados por presidentes progressistas, preocupados com uma forte inclusão social das pessoas mais pobres", disse Lula, durante uma entrevista ao canal argentino IP Noticias, pouco depois de aterrar em Buenos Aires.

A entrevista completa, que será emitida no próximo sábado à noite, foi parte do compromisso assumido por Lula com os anfitriões que o trouxeram de São Paulo a Buenos Aires: o ex-ministro da Educação Nicolás Trotta e o sindicalista Victor Santa María, acionista do canal IP e do jornal Página 12, aliados do atual Governo argentino.

A eleição de Lula em dezembro de 2002 marcou o início de uma inédita sucessão de governos de esquerda na região. Depois de Lula, vieram o argentino Néstor Kirchner (2003), o uruguaio Tabaré Vázquez (2005), o boliviano Evo Morales (2006), o equatoriano Rafael Correa (2007), o paraguaio Fernando Lugo (2008) e o peruano Ollanta Humala (2011), entre outros.

O auge eleitoral da esquerda ficou associado ao 'boom' das 'commodities' (matérias-primas), que permitiram a maior bonança económica na região desde a Segunda Guerra Mundial. Com o fim dos altos preços e o desgaste de reeleições, a região virou à direita a partir de 2015, com a chegada ao poder do argentino Mauricio Macri.

Desde então, com a exceção de Alberto Fernández, em 2019, e do peruano Pedro Castillo, em junho passado, todas as eleições foram vitória da direita, tendência que Lula pretende romper, se confirmar a sua candidatura às eleições brasileiras de outubro de 2022, reinaugurando uma nova onda, 20 anos depois.

Lula chegou a Buenos Aires ao final da tarde de quinta-feira, para participar na cerimónia pelo Dia da Democracia e dos Direitos Humanos na emblemática Praça de Maio, ao lado do Presidente argentino, Alberto Fernández, da vice-Presidente, Cristina Kirchner, e do ex-Presidente do Uruguai, José "Pepe" Mujica.

"De volta em solo argentino, sendo recebido pelo companheiro Alberto Fernández e pela companheira Cristina Kirchner. Amanhã temos um encontro marcado na Praça de Maio no Festival Democracia para Sempre. Viva a América Latina!", escreveu Lula na rede social Twitter, ao ser recebido para um jantar na residência presidencial.

Antes do evento na Praça de Maio, às 18:30 (21:30 em Lisboa), Lula terá uma reunião com o Presidente Fernández na Casa Rosada, o Palácio do Governo argentino.

Depois da reunião, o ex-Presidente brasileiro será distinguido pela luta pelos Direitos Humanos, a partir das 17:00 (20:00 em Lisboa), no Museu do Bicentenário, no subsolo da Casa Rosada.

A partir desse evento, Lula estará acompanhado por outro ex-Presidente de esquerda com forte carga simbólica, o ex-Presidente uruguaio José Mujica (2010-2015), conhecido popularmente como "Pepe" Mujica.

A presença de Lula na Argentina era uma promessa assumida pelo brasileiro desde que deixou a prisão em 08 de novembro de 2019, após uma detenção de 580 dias. Nessa altura, o atual Presidente argentino tinha acabado de ser eleito.

Em 04 de julho de 2019, ainda candidato, Alberto Fernández visitou Lula na prisão, um gesto para chamar a atenção internacional para a situação de Lula, mas também um ato de campanha, devido ao simbolismo de Lula para a esquerda regional.

"A minha presença aqui é um gesto de agradecimento a Alberto Fernández, que foi muito solidário quando me visitou na prisão. Nunca vou esquecer", disse Lula, em entrevista ao canal IP.

A visita de Alberto Fernández a Lula, no entanto, foi o ponto de rutura na futura relação com o Presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Bolsonaro interpretou a visita de Fernández como uma "ingerência nos assuntos domésticos do Brasil" e considerou o argentino um "amigo do seu maior inimigo".

Desde então, Alberto Fernández e Jair Bolsonaro nunca se reuniram presencialmente, apesar de a Argentina e o Brasil serem parceiros estratégicos e formarem o eixo da integração regional.

A visita de Lula a Alberto Fernández volta novamente a afastar os governos de Brasil e Argentina.

"Provavelmente, a relação entre Bolsonaro e Fernández continua agora como começou: uma relação distante, com curtos-circuitos, talvez a mais fria entre dois Presidentes da Argentina e do Brasil da história", indicou à Lusa o politólogo argentino Lucas Romero.