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Trabalhadores de loja Starbucks em votação inédita aprovam criação de sindicato

Foto Don EMMERT/AFP
Foto Don EMMERT/AFP

Os trabalhadores de um café Starbucks em Buffalo, no norte dos EUA, votaram a favor da criação de um sindicato no seu estabelecimento, o primeiro em uma unidade gerida pela empresa no país, contra a vontade desta.

Esta votação pode significar o início de um novo modelo laboral no conglomerado do café, velho de 50 anos.

A agência federal para as relações laborais (NLRB, na sigla em Inglês) informou que o resultado da votação tinha sido de 19 a favor a oito contra em um dos três estabelecimentos de Buffalo. Um segundo estabelecimento rejeitou a criação do sindicato por 12 votos contra oito. Os votos ainda estão a ser contados no terceiro.

Se a NRLB certificar a votação -- um processo que deve demorar cerca de uma semana -, esta vai ser a primeira vez que uma loja da Starbucks vai ter trabalhadores sindicalizados.

A Starbucks tem combatido ativamente a sindicalização dos seus trabalhadores desde há décadas.

Os trabalhadores dos três estabelecimentos começaram a votar por correspondência no mês passado se queriam ser representados pelo Workers United, filiado no Service Employees International Union.

A NLRB começou a contar os votos na quinta-feira das eleições realizadas nos estabelecimentos. Cerca de 111 trabalhadores da Starbuks são elegíveis para esta votação.

Os votos 'sim' são suscetíveis de acelerar o movimento pró-sindicalização em outras lojas da Starbucks. Já há, aliás, petições para a organização de eleições em mais três unidades em Buffalo e uma quarta em Mesa, no Estado do Arizona.

Um dos organizadores do movimento, Casey Moore, que tem trabalhado na Starbucks na área de Buffalo, queixou-se: "Não há qualquer responsabilização [prestação de contas]. Não temos qualquer palavra a dizer", antecipando: "Com um sindicato vamos ser capazes de nos sentar à mesa e dizer 'queremos isto'".

A Starbucks argumenta que os seus oito mil estabelecimentos nos EUA funcionam melhor quando lida diretamente com os seus funcionários, a quem designa por 'parceiros'.

Muitos empregados na zona de Buffalo trabalham em mais do que um estabelecimento, conforme a procura, segundo a Starbucks, que quer ter a liberdade de os movimentar entre estabelecimentos.

Em carta enviada a todos os trabalhadores da Starbucks este mês, o presidente da empresa, Kevin Johnson, realçou os benefícios que a empresa lhes proporciona, como baixas e licenças parentais pagas e acesso gratuito à Universidade Estadual do Arizona.

No último mês, a empresa também anunciou aumentos salariais, dizendo que todos os trabalhadores vão ganhar pelo menos 15 dólares por hora no próximo verão.

Mas os apoiantes do sindicalismo entendem que a Starbucks pode fazer mais.

"Se a Starbucks consegue encontrar dinheiro para pagar ao seu presidente cerca de 15 milhões de dólares, penso que talvez consiga pagar aos seus trabalhadores um salário decente com benefícios decentes", disse o senador Bernie Sanders, um independente eleito pelo Estado do Vermont.

Se a votação for certificada, a Starbucks fica legalmente obrigada a começar o processo de negociação coletiva com o Workers United, disse Cathy Creighton, diretora do Centro de Investigação de Relações Industriais e Laborais na Universidade de Cornell.

Em alguns casos, as empresas fecharam um estabelecimento em vez de encetarem negociações sindicais. Mas isto é difícil para uma cadeia retalhista como a Starbucks, uma vez que é ilegal fechar um estabelecimento e depois abrir outro nas proximidades, acrescentou Creighton.

Esta votação sindical acontece em conjuntura de crescente conflito laboral nos EUA. Os trabalhadores da Kellogg estão em greve, depois de terem rejeitado esta semana uma proposta de contrato. Milhares de trabalhadores da Deere & Co. estiveram em greve este outono. Os trabalhadores da Amazon no Estado do Alabama vão voltar a votar sobre a criação de um sindicato, depois de o governo ter apurado que o conglomerado do comércio eletrónico os pressionou em votação anterior para votarem 'não'.

Dan Graff, diretor de um programa de investigação sobre o trabalho na Universidade de Notre Dame, considerou que a pandemia deu a muitos trabalhadores o tempo e o espaço para repensar o que querem dos seus empregos.