Compare-se mais com a pessoa que era ontem e com a que quer ser amanhã
O aumento de sintomatologia depressiva e ansiosa em jovens e adolescentes evidencia uma relação comas maiores exigências quanto à sua aparência, performances académica e desportiva e popularidade quando, por vezes, ainda não desenvolveram competências para lidarem com tais demandas.
Muitas destas imposições advêm da comparação social com o que os outros alcançaram. Naturalmente que a maior parte de nós se equipara com um amigo, colega ou celebridade, na tentativa de perceber “em que nível e onde estamos”. E algumas dessas comparações são informativas e podem ajudar em alguns momentos. Mas noutras vezes são comparações desencorajadoras e vãs porque irá existir sempre alguém melhor que nós, ou que o aparenta ser, tornando-se este um exercício inútil, que nos pune como a Sísifo, com consequências negativas.
Ao invés, uma forma mais saudável de constatarmos onde e como estamos será pelo confronto temporal - compararmo-nos hoje com quem éramos no passado, ou com quem queremos ser no futuro. Porquê? Porque a aparente perfeição dos outros pode ser uma ilusão: os sucessos profissionais invejáveis, as férias maravilhosas, a família e relações felizes, a foto da amiga sempre perfeita, por vezes não correspondem à verdade ou são apenas uma camada da verdade. Um sucesso profissional pode surgir após 10 insucessos difíceis, as férias e fotos do casal ou da família feliz e sorridente podem acontecer após uma manhã de desentendimentos, a foto perfeita da amiga pode ser resultado de 50 tentativas, com edição de imagem e pelo ângulo mais favorável. Nunca sabemos toda a verdade e sairemos sempre a perder se cedermos à comparação com imagens instantâneas de aparente perfeição e sucesso.
Porque é que é mais produtivo compararmo-nos com o que éramos no passado e com quem queremos ser no futuro?
1. Ajuda-nos a estruturar objetivos: ter uma ideia mais clara do que queremos fazer, do que temos feito até agora e do que precisamos de mudar permite-nos dar passos realistas para atingirmos os nossos propósitos.
2. Ajuda-nos a sermos mais objetivos e a solucionar melhor problemas: se a semana passada corri 10km em X minutos e hoje fui apenas capaz de correr 8 nesse mesmo tempo, o que mudou durante esta semana? Posso ter descansado pior, ter muitas preocupações ou treinado demasiado e precisar de gerir melhor o esforço. Se pretendo evoluir na carreira ou melhorar a qualidade das minhas relações que competências possuo e que me poderão de imediato ser úteis e que competências terei de desenvolver? Que passos dei no passado que funcionaram e que poderão ser-me úteis agora? O que não funcionou antes e que pode desde já ser posto de parte? O que aprendi sobre mim ao longo deste tempo?
Este foco em nós próprios pode ajudar-nos a ser mais concretos e direcionados, a estruturar melhor a nossa caminhada e a aproximarmo-nos dos nossos objetivos. Direcionar os nossos esforços para o auto-aperfeiçoamento em vez da traiçoeira comparação com os outrospermite-nos viver e procurar evoluir de forma mais realista. E saudável.