Presidente da APAVT lança "grito contra o medo"
Pedro Costa Ferreira lembra que o País precisa de todas as companhias aéreas
O presidente da APAVT, Pedro Costa Ferreira, abriu o 46.º Congresso Nacional, que se realiza em Aveiro, determinado em pedir mais apoios para o sector que chega ao dia de hoje "com razões para festejar e com motivos para exigir".
"Razões para festejar tanta capacidade de resistência, tanto sofrimento passado, tanto desafio vencido, nunca abandonando uma característica única que uniu e justificou tudo o resto, a vontade de servir o Cliente, princípio e fim de toda a nossa actividade", referiu, sem ignorar o drama e as dúvidas, "perdas absolutamente violentas, destruição dos capitais próprios, e endividamento das empresas e dos empresários, factos que representarão pesada herança nos próximos anos". Mas não apenas. Também um conjunto de apoios que foram absolutamente fundamentais, "apesar de insuficientes".
Apoios insuficientes
"Mas todos sabemos, há muito tempo, que os apoios foram insuficientes, frequentemente tardio o momento em que ocorreram, bem como, demasiadas vezes, foram difíceis os processos administrativos de acesso aos mesmos. Mais do que isso, todos sabemos que não poderão acabar, sob pena de inutilizarmos os esforços já desenvolvidos, transformando então fundo pedido em saco roto. Por outras palavras, é imprescindível que não permitamos que o sector, e com ele a capacidade de recuperação do País, morram na praia, por interrupção dos apoios necessários. Dissemos logo no início da crise, que, em tempos excepcionais, não pode ser o orçamento a determinar o apoio à crise, é exactamente o tamanho da crise que tem de determinar o apoio do orçamento. E afirmámo-lo, queremos sublinhar, com a consciência absoluta de que não estamos a pedir apoio. Estamos a exigir. Porque a todo o apoio que tivemos e venhamos a ter, como já referimos, juntámos as nossas perdas e o nosso endividamento. Porque todo o apoio que tivemos e venhamos a ter teve, tem e terá origem nos nossos impostos, logo no nosso dinheiro, portanto no nosso trabalho. Finalmente, porque todos sabemos que é o Turismo que vai liderar a recuperação económica. Ou seja, cada euro gasto a apoiar as nossas empresas será rapidamente pago, com juros, ao nosso País", referiu, tendo sido aplaudido.
Pedro Costa Ferreira abordou também a situação política, criticando "os políticos deste País não lograram a aprovação de um orçamento, num momento tão decisivo para as empresas, colaboradores, empresários e cidadãos". Afirma que o sector sente-se um pouco abandonado pelos nossos políticos, num contexto em que a retoma será lenta, desigual e assimétrica.
Entende ser crítico que se reactive o programa apoiar.pt. "A verdade é que o programa funcionou até 04.2021, quando a crise se alongou até hoje, sendo que hoje, as restrições à actividade económica e à mobilidade são tão absolutamente claras, como o eram então. A diferença é que hoje, é absolutamente visível que as empresas estão ainda mais frágeis, logo, muito mais necessitadas de apoio", sugere.
Sobre o sector das agências viagens, revela que em 2015 contribuía, considerando os efeitos directos, indirectos e induzidos, com 3,2 mil milhões de euros de valor acrescentado bruto, números que representam 2,1% do PIB. Um sector que, em 2019, considerando o mesmo método de cálculo, numa actualização do valor económico da distribuição turística, representava 2,5% do PIB, com um valor acrescentado bruto, considerando efeitos directos, indirectos e induzidos, de 4,5 mil milhões de euros.
Um sector, assim, que entre 2015 e 2019, cresceu mais que a economia portuguesa, acentuando a sua influência no crescimento económico do País, na geração de emprego e, através das exportações, no equilíbrio das contas externas. Um sector em que cerca de 41% dos colaboradores possui habilitações ao nível do ensino superior, correspondendo este número ao dobro da média nacional.
Apesar desta dimensão e capacidade de intervenção na cena económica, a APAVT assume estar bem ciente da importância da integração em universos mais abrangentes. Os dois mais importantes, a CTP-Confederação do Turismo, em Portugal, e a ECTAA-Confederação das Agências de Viagens, na Europa. Estratégia de integração, com o propósito assumido de juntar e não dividir; de contribuir e não apenas berrar; de construir e não apenas criticar. Com a firme convicção de que o sector necessita de união de esforços, apesar das diferenças de opinião; de uma resposta comum, que proteja e projete aquilo que nos une, naturalmente muito mais importante do que o que nos separa.
As prioridades do turismo
Pedro Costa Ferreira entende haver muitas razões pelas quais "tanto necessitamos de união, de concertação de esforços, de sentido de estratégia".
Eis as prioridades definidas pelo presidente da APAVT:
Em primeiro lugar, porque temos de resolver o problema da solução aeroportuária. Todos sabemos que queremos chegar ao ano de 2027 com a performance turística prevista para esse ano, antes da eclosão da crise.
Mas também, todos sabemos, que, sem uma solução aeroportuária, é bem mais provável que cheguemos a 2027 com números turísticos inferiores aos de 2019.
Em segundo lugar, porque num momento em que as questões relacionadas com a sustentabilidade são decisivas, temos que resolver a questão da ligação ferroviária de alta velocidade, iniciando uma estratégia de resposta perante as dificuldades que rapidamente surgirão, no que concerne a voos de curta duração.
Em terceiro lugar, porque numa altura em que, do lado da oferta, flexibilidade será a palavra-chave, temos de desenvolver uma resposta una e coerente, ao longo de toda a cadeia de valor. Não haverá oferta competitiva, se não for flexível; hoje, todos temos de ter a consciência de que é preferível termos reservas que poderão ser canceladas, do que simplesmente não termos reservas.
Precisamos de união e sentido de estratégia, também porque teremos de nos preocupar com a defesa do Hub aéreo em Lisboa, e isso não parece possível sem a manutenção de uma TAP com dimensão.
Hoje, vemos o País dividido entre quem sustenta o apoio estatal à TAP e quem o combate. Não nos revemos nesta simplicidade de análise.
Desde logo, porque o principal desafio do turismo português é o desenvolvimento dos mercados longínquos, que nos trarão mais território turístico e menos sazonalidade. Não cremos que tenhamos êxito nesta tarefa, se não mantivermos o Hub, bem como não acreditamos que consigamos manter o Hub, se não for através da TAP.
Por outras palavras, o que é mais caro? Apoiar a TAP, ou regredir dez anos no sector turístico, com todas as implicações para a economia nacional?
Mas dizer isto, e com isto acreditar que, enquanto País, devemos apoiar a TAP, não é isentá-la da necessidade de gestão rigorosa e resultados positivos, procurando que o apoio seja o menor possível, pelo menor período de tempo possível.
O mesmo, aliás, deve ser dito da SATA. O papel que esta companhia aérea representa nos Açores dificilmente permitirá, em nosso entender, sermos levianos ou termos um olhar político de curto prazo quanto à necessidade de resolução dos problemas que tenta agora resolver, através de uma estratégia reformadora.
Sim, o País vai precisar das suas companhias aéreas. Contem connosco para construir equipa! Pedro Costa Ferreira
Um grito contra o medo
Pedro Costa Ferreira entende que este congresso se realiza numa altura, em que "a incerteza aumenta".
As dúvidas voltaram. Vamos precisar outra vez uns dos outros para afastarmos o medo. Este congresso é, também, um grito contra o medo". Pedro Costa Ferreira
O presidente da APAVT quis "expressar a alegria dos agentes de viagens por terem a companhia, nesta sessão, do primeiro magistrado da Nação. "Sabemos, Senhor Presidente, que teve de gerir a sua agenda para estar aqui connosco, estamos por isso felizes e agradecidos. Esperamos também que saia desta sala com o sentimento de que valeu a pena estar junto de um sector que tanto tem feito pelo Turismo e pela economia portuguesa, o sector das agências de viagens".
Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu o empenho do sector numa momento que considerou ser de "abertura" que coroa a luta constante.
Aos congressistas assumiu que decretar o estado de emergência foi o acto mais difícil do mandato, "duas vezes mais difícil do que dissolver a Assembleia da República".