Artigos

Sabor a mi

Durante a vida vamos construindo o que somos combinando influências de uma forma singular. Somos o que vemos, o que ouvimos, o que provamos, o que conhecemos…Mas vemos coisas que outros já viram, ouvimos coisas que outros já ouviram, visitamos lugares onde outros já foram. E no meio disto adoptamos como nossos os gostos dos outros.

Fui durante algum tempo vizinho do cineasta Fernando Lopes. Menos conhecido que Manoel de Oliveira, menos icónico que João César Monteiro, mas deixou-nos obras marcantes do chamado Cinema Novo como “Belarmino” (1966) ou “Uma Abelha na Chuva” (1971). Nunca tive a coragem de meter conversa, hoje lamento. Mas fiquei com uma canção que recorrentemente incluía nas bandas sonoras dos seus filmes: Sabor a mi. Um bolero eternizado pelo trio Los Panchos e certamente familiar para alguns que hoje fazem da Madeira a sua casa, nova ou num regresso às origens. Era a música do Fernando Lopes, que me a ofereceu sem saber. Será também a música que muitos filhos viram os seus pais dançar em Caracas, por exemplo, e que os transportam para um tempo e um lugar onde eram felizes, longe da Madeira. Que dancem eles hoje, e que os filhos vejam, aí.