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Alterações Climatéricas???

Resolva-se o problema da água de rega com mais captações, mais reservas e o arranjo das grandes levadas

Há dias li no DN um intervenção de um professor da Universidade da Madeira que as cerejeiras e a casta de vinha Sercial já estavam a sofrer com as alterações climatéricas, com dificuldades em produzir.

Se essas alterações climatéricas se resumem à falta de chuva em determinadas épocas, poderá ter razão, porque em relação às temperaturas e pelos registos que faço, não se nota assim tanta alteração. Refiro-me concretamente à freguesia do Seixal que é a melhor produtora de uvas da casta Sercial. Vejamos: A vinha, de um modo geral necessita de alguma chuva no mês de Fevereiro para ativar a circulação da seiva e provocar a rebentação das cepas no mês seguinte. Acontece, por vezes que essas chuvas escasseiam e para evitar uma rebentação mais complicada será necessário regar abundantemente no referido mês de Fevereiro. Por outro lado se o frio nos meses de Janeiro, Fevereiro e principalmente no principio de Março, for pouco intenso a planta terá mais dificuldades em rebentar na altura certa. A vinha é uma cultura que precisa de invernos frios e de Verões quentes para que produza boa uva para ser transformada em vinho. Existem, no mercado, alguns produtos que podem substituir o frio. Se for esse o problema há que aplica-los na altura certa, cerca de quarenta e cinco dias antes da rebentação provável e se for da falta de chuva, há que manter a terra no período indicado com muita humidade, através de regas.

Nos últimos vinte anos a temperatura mínima que tive no Seixal, foi em 2012 que atingiu, durante algumas horas, durante uma noite, os oito graus centigrados. Nos restantes anos a temperatura mínima andou pelos dez graus, durante mais algum tempo. Ora nestes vinte anos houve muitos anos com boas produções. O agricultor diz que o Sercial é uma casta aneira, ou seja produz ano sim, ano não. Na realidade quando a planta produz muito chega a esgotar as reservas da planta, dificultando no ano seguinte a rebentação, porque a fertilização não foi adequada à quantidade produzida. Quanto mais a planta produz, maior terá que ser a fertilização e os agricultores fazem sempre a mesma fertilização. Por outro lado alguns agricultores têm a mania de fazer a espoldra ou pré poda da vinha, logo a seguir à vindima, deitando no chão muita folha ainda bem verde e que poderia continuar por mais algum tempo a “fabricar” açúcar, através da fotossíntese que ficará acumulado na madeira velha e nas raízes da planta, contribuindo para uma melhor rebentação, como já o afirmamos. Essa espoldra ou pré poda só deve ser feita quando as folhas amarelam, ou seja no mês de Dezembro.

Quanto à cereja há dois aspetos a considerar: A idade adiantada de muitos pomares de cerejeiras e a falta de chuva nos períodos certos. Conversei com um técnico que produz cerejas que me disse ter resolvido o problema, montando um sistema de rega gota a gota nos seus pomares. Sabemos que entretanto existem apoios para a renovação dos pomares velhos, por novos depois de uma cava funda e de uma calagem correspondentes aos valores do PH da terra, que de um modo geral andam pelos 500 gramas de calcário moído por metro quadrado ou equivalente de outro calcário de outras origens. Segundo esse Engenheiro do jardim da Serra, este ano teve uma boa colheita, quando todos os outros agricultores se queixaram de uma má produção.

Não nos devemos esquecer que a falta de água de rega tem sido uma constante, porque grande parte da água de rega foi roubada para o consumo público, em vez de fazerem mais captações e mais e maiores reservatórios para guardar a água do Inverno para o Verão, como indico com mais pormenores no livro que publiquei em Julho, ‘A AGRICULTURA MADEIRENSE E EU’.

Resolva-se o problema da água de rega com mais captações, mais reservas e o arranjo das grandes levadas que segundo o próprio governo, perdem mais de 30% da água que transportam. Canalize-se grande parte dessa água e forneça-se ao agricultores água sob pressão, que lhes permitirá usar sistemas de rega que economizam muita água e teremos estes problemas anunciados como alterações climatéricas.