Crónicas

Mãos à obra

O liberalismo é racional e essa racionalidade é ameaçada, diariamente, pelos “achismos” de quem nada, ou pouco, sabe

1. Disco: não é nada de novo, mas este “Acoustic Hymns Vol. 1”, de Richard Ashcroft, é uma excelente revisitação ao trabalho dos Verve. Novos arranjos, e a participação do irrequieto Liam Gallagher, dão corpo ao que passarei a semana a ouvir.

2. Livro: hoje não indico nenhum livro. Ouso sugerir que leiam as crónicas que a Ana Gandum nos tem trazido, a estas páginas, às terças-feiras. Fotografias que configuram a nossa história, os que partiram e os que ficaram, acompanhadas de excelentes textos. Altamente recomendável.

3. Tenho feito questão, ao longo destes anos que levo a escrever aqui, de pouco falar do meu partido. Reafirmo que não foi para isso que me convidaram para, todas as semanas, deixar aqui umas linhas. Hoje, abro mais uma excepção.

Os ciclos de coordenação dos Núcleos da Iniciativa Liberal têm dois anos. No final de Outubro passado terminou um desses ciclos, tendo a IL Madeira como coordenador Duarte Gouveia que dirigiu o partido na Madeira, superiormente. Não podemos esquecer que foi sob a sua mão que concorremos às autárquicas de Setembro passado, as eleições mais difíceis de serem organizadas do ponto de vista partidário, com excelentes resultados. Não podemos esquecer o excelente resultado obtido na Madeira por Tiago Mayan.

No próximo sábado, reúne-se o Plenário Regional que irá decidir da estratégia para os próximos dois anos, bem como, na sua capacidade electiva, eleger os novos órgãos da estrutura da Iniciativa Liberal Madeira.

Terminado este ciclo, abre-se outro e sou candidato a Coordenador do Núcleo da Madeira da Iniciativa Liberal.

Tomo esta decisão, após ter conversado com inúmeros membros do partido bebendo, nas suas palavras sabedoras, ensinamentos e perspectivas do que deve ser o caminho a percorrer, que não se deve afastar dos princípios fundamentais do liberalismo.

Que fique bem claro ao que venho e para aonde vou! Sou liberal e ponto. Tenho do liberalismo uma escola de pensamento que considera o uso arbitrário do poder como um modo de destruir a liberdade individual e o estado de direito. As divisões que existem no liberalismo, não passam de desacordos individuais sobre como governar a relação do Estado com o indivíduo. Isso não nos pode nunca separar.

Defendo acerrimamente o liberalismo como modelo político sustentado na liberdade, na autonomia individual e no consentimento, como valores morais fundamentais que sustentam o contrato social que nos permite viver em conjunto. Isto é inquestionável, não é sequer passível de discussão. Aceito que os valores fundamentais da democracia e fidelidade à salvaguarda dos direitos individuais estejam sujeitos a diferentes interpretações, e pouco mais do que isso.

Estou com James Traub: “na raiz da tradição liberal está a fé no indivíduo e um profundo respeito pelos seus direitos — políticos, económicos, pessoais. O liberalismo, portanto, vive em tensão, geralmente saudável, com as maiorias geradas em democracia”. Como John Stuart Mill escreveu, “todos temos o direito de dizer o que pensamos, mesmo que todos pensem que estamos errados”. É também assim com o direito de nos comportarmos como quisermos.

Vivemos tempos difíceis. Tempos que não configuram um futuro risonho. O optimismo, o racionalismo, o pragmatismo, que o liberalismo subentende, estão pouco presentes nos nossos dias. É difícil explicar em que acreditamos a quem só entende cálculos de soma zero.

O liberalismo é racional e essa racionalidade é ameaçada, diariamente, pelos “achismos” de quem nada, ou pouco, sabe; é ameaçada pela perda generalizada de fé nos princípios neutros da ciência, dos factos, da perícia e da própria razão.

A Iniciativa Liberal tem de ser o partido da liberdade e dos bons valores democráticos. O partido que reconhece cada um de nós como uma entidade irrepetível, sendo a partir do individual que podemos pensar o conjunto. Um partido de olhos postos no futuro que não deixa ninguém para trás.

Rejeitar os extremismos de esquerda e de direita, não alinhar em populismos, nem perder tempo com quem da política tem só a ideia de um projecto de projecção pessoal, são linhas vermelhas que nunca por nunca podemos atravessar.

Contribuir para uma Autonomia da Madeira mais madura e representativa, potenciadora da criação de mais riqueza, senhora de uma governação responsável. Uma sociedade educada, justa e inclusiva.

Temos de encontrar soluções sem prescindir daquilo que nos separa e distingue dos outros: a busca da prosperidade, o desenvolvimento sustentado e sustentável, a segurança, a Autonomia evolutiva, a democracia, o sistema fiscal próprio, a participação cidadã, etc.

Com base no documento que apresentámos aos madeirenses nas eleições Regionais de 2019, é chegada a altura de, com calma e com novos olhares, o revermos e melhorarmos de maneira que o possamos reapresentar em 2023.

O principal objectivo para os próximos dois anos só pode ser um: eleger deputados nas próximas eleições regionais. Não pode ser outro. É para isso que temos de trabalhar, apresentando caminhos e propostas que sejam facilmente entendíveis pelos eleitores, convencendo os desiludidos da política que ganhar eleições nem sempre passa por ser o partido mais votado. Assumir, com o eleitorado, que o nosso propósito é o de dar-lhes voz, de efectivamente os representar.

No entanto, o eterno devir dos acontecimentos leva-nos, no imediato, à necessidade de preparar a participação nas próximas Eleições Legislativas Nacionais, do início do próximo ano. Competirá à nova Comissão Coordenadora da Iniciativa Liberal Madeira liderar o processo, apresentando a sua lista de candidatos que, como sempre, será de grande qualidade, constituída por pessoas sabedoras e com perfeito entendimento de que integram um projecto firme e responsável, um projecto que faz toda a diferença.

Liberdade política, liberdade económica e liberdade social. São estes os três pilares que determinarão o nosso trabalho.

Mãos à obra.

4.Estamos à beira de eleições legislativas. Era tão bom que aos eleitores competisse, em consciência e segundo a sua sensibilidade, escolher os que lhe parecessem estar em melhor posição para bloquear o derramamento da estupidez, da mediocridade, do ódio.

Para além do sempre necessário debate ideológico, que tanto irrita os que o tentam matar diariamente, há questões que não podem ficar de fora. Aquelas questões tão queridas aos incendiários de almas com os quais não há compromisso possível, com quem a luta tem de ser impiedosa.

Pelo caminho que persistimos em seguir, ninguém ganha. O que acontece é que vamos perdendo mais devagar e, assim, ficamos com a sensação de que dói menos. Parece que as coisas correm para um lado e as pessoas para o outro.

Quanto maiores são as mentiras que nos contam, muitas das vezes à descarada, mais são os que nelas acreditam. A doença da nossa democracia está no seu paroxismo, e as soluções não se afiguram as melhores porque, duma coisa tenho a certeza, a escolha será entre o mesmo e o mais do mesmo.

5. Na sexta-feira saíram duas sondagens que prefiguram o que aqui escrevi na semana passada: não atingindo maioria absoluta, o PS pode estar à beira de, com o PAN, poder ter um acordo de governação mais estável do que o que teve com a Geringonça. Uma espécie de coligação Ursinho de Peluche, cheia de coisas fofinhas. Um dia por semana os deputados levam para o Parlamento os seus animais de estimação vestidos com roupas informais (os deputados, claro).

Jogue bem António Costa os seus trunfos, encostando o Bloco e o PCP à parede, responsabilizando-os pela não passagem do OE2022, e é o que pode acontecer.

6. “Para que tudo fique na mesma, é preciso que TUDO mude.” — Giuseppe Tomasi, príncipe de Lampedusa