Eleições a pedido de Costa
Tenho ouvido, ao longo dos últimos dias, extensas argumentações que pretendem culpabilizar os partidos à Esquerda do PS pela ‘irresponsabilidade’ de criarem uma crise política, com o chumbo do Orçamento do Estado para 2022. Confesso que tenho dúvidas acerca da estratégia seguida por BE e PCP que, em minha opinião, poderiam ter deixado passar o OE na generalidade e apresentado, em sede de discussão na especialidade, as propostas já rejeitadas pelo Governo aquando das rondas negociais. Assim, seria possível, “aos olhos do país”, mostrar a intransigência do Executivo em aceitar a justas propostas em prol da valorização dos salários e das pensões, da defesa dos serviços públicos essenciais, do combate à precariedade laboral, da valorização da Cultura e dos agentes culturais e, em suma, de melhores condições de vida para o nosso povo. Após a recusa de tais propostas, em sede de discussão na especialidade, tal como já havia feito nas rondas negociais, o OE teria, naturalmente, o voto contra da Esquerda que não podia aprovar um péssimo Orçamento, penalizador dos trabalhadores e pensionistas e condescendente para com os mesmos que a direita protegeu, mesmo nos anos da troika. Independentemente disso, a verdade é que a intransigência do governo perante as propostas dos antigos parceiros da Geringonça não é inocente: Costa queria eleições para se tentar livrar de BE e PCP, tentando culpabilizá-los por uma “crise política” que ele próprio engendrou, na esperança que essa jogada pudesse redundar numa maioria absoluta em seu favor. Hábil, como poucos, o primeiro-ministro conseguiu levar a bom porto esta jogada política, tendo envolvido no seu jogo de interesses o Presidente da República, que com ele pactuou em troca de longos dias de protagonismo sem o qual, o narcisista de Belém, não pode viver. A minha esperança é que a generalidade do eleitorado não se deixe enredar em equívocos. Só há um responsável por esta crise fabricada por António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa: o próprio primeiro-ministro, que há tanto tempo vem tentando uma oportunidade de levar o país a votos na expectativa que lhe saia a maioria absoluta. Ele próprio já a pediu no seu discurso final, na Assembleia da República. O que é preciso é que o eleitorado, à Esquerda, se mantenha firme, não fazendo o jogo das direitas e de Costa, ‘gritando’ bem alto que é à Esquerda que se protege o país!