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Pedra preciosa

Quando o meu pai fez obras na casa, no início da década de oitenta, eu cheguei a cirandar areia com o tamanho das mãos que eu tinha na altura. As pedras pequenas ficavam retidas na rede do peneiro baloiçante, que eram expurgadas do moio d’areia, que um velho meio-carro de carga, de marca Mazda, cansadamente se arrastava pela Rochinha acima, expelindo uma nuvem negra envolta num barulho esforçado, duma aceleração inversamente proporcional ao efetivo movimento. (Na altura não havia aquelas séries documentais sobre a febre do ouro americano, senão a obra, pela minha parte, nunca mais acabaria.) Aquilo entrava pelo quintal dentro, e sem báscula, a mercadoria era rapada às pazadas para o chão do quintal, até desonerar aquele peso-morto, da não menos moribunda carripana que ainda arfava, ardente, já depois de descarregada.

A equipa de Pedro Calado nesta renovada Câmara, apesar de genuinamente saudada, não foi a meu ver “peneirada”, pois, tem uma pedra “preciosa” que não só não foi expurgada, como também suscita reparos de tão reluzente que é. A atual Vice-Presidente é diametralmente oposta à cessante congénere. A anterior era de uma discrição e modéstia confrangedoras, e cedo ficou ostracizada, sobretudo na era (do agora “enlutado”) Miguel Silva Gouveia, que a enxotou à esquina, ainda para mais, com aquele ferrete de arguida, marcado em brasa na testa, após a tragédia do Monte de 2017. E todo este desprezo, mesmo depois desta, se ter colocado voluntariamente em 2014 sobre o cadafalso da presidência agonizante de Paulo Cafôfo, permitindo-lhe guarida, quando este acabara de escorraçar, três dos seus vereadores, naquilo que ainda hoje constitui, um dos episódios mais negros de imbecilidade, a que a minha Cidade foi submetida.

Por seu lado, a atual Vice-Presidente é “efusiva” e atendendo aos pelouros que tutela, tem mão em muita área sensível da vida municipal. Ou seja, muita pedra para partir.

Esta “preciosidade lítica” corporiza, a meu ver, um ensaio vivo da sangrenta revolução bolchevique de 1917, mas ao contrário, como se ressurgisse em todo o seu auge, o canonizado czar Nikolai Alieksandrovich Romanov, mas, no antigo Palácio do Conde de Carvalhal. Cristina Pedra já suscitava alguma perplexidade na lista de Pedro Calado, e desperta imensos alertas agora, ainda para mais, assumindo a Vice-Presidência (enquanto potencial antecâmara do patamar mais cimeiro), e tendo confiada sob sua tutela, a administração das finanças e, a elaboração do futuro orçamento municipal, fase aliás, de que atualmente se ocupa.

Não tenho quaisquer dúvidas de que Pedro Calado se rodeia de pessoas competentes e em quem confia. E naturalmente liderando este projeto, tem o efeito de arrasto pela adesão popular a essa confiança (e cansaço da anterior “desConfiança”). Contudo, há pessoas que pela pouca empatia pública que provocam, não são “políticas” ou suscetíveis de induzir a sua adesão. Todavia, ainda que desconhecendo a sua competência técnica, não tenho quaisquer razões para a colocar em causa, o que aliás, seria tremendamente injusto. Mas, manter o alerta, é avisado. O trabalho de qualquer eleito é o de servir a comunidade e todo o eleitorado, pelo que, a simples e real ideia de que o engenho de Cristina Pedra, está neste momento e pelos próximos quatro anos, a trabalhar também para mim enquanto munícipe, é-me prazerosa. Agrada-me. E tenho a certeza de que, se os leitores também isolarem este pensamento, sentir-se-ão igualmente confortados, tal como eu. Já é qualquer coisa (pedra) no “sapatinho”...de Natal, claro!

Boas Festas!