EUA lançam fundo global para defesa de jornalistas alvo de acusações judiciais
Os Estados Unidos anunciaram ontem o lançamento de um fundo global para defesa de jornalistas, destinado a profissionais da comunicação social alvo de ações judiciais movidas por governantes autocratas ou oligarcas.
O anúncio foi feito hoje pela administradora da agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Samantha Power, em Washington, que defendeu o reforço das democracias, por ocasião do 60.º aniversário da agência.
"Acontece que autocratas e oligarcas empregam muitas vezes uma tática brutal, mas eficaz, para matar histórias (peças jornalísticas) que não lhes agradam -- processam jornalistas até que os repórteres abandonem o assunto ou percam os trabalhos", afirmou a administradora da USAID, também ela antiga jornalista.
O fundo global vai oferecer apoio monetário a jornalistas "para sobreviver a alegações de difamação" ou para deter políticos nas tentativas de processar repórteres, disse Samantha Power.
A diplomata considerou que as ameaças à democracia estão em constante evolução e só podem ser prevenidas com inovação e renovação do apoio aos jornalistas.
"Democracias estabelecidas também precisam de ajudar a fixar regras globais para tecnologias de vigilância ou desinformação digital, ao passo que os autocratas se tornam mais hábeis nas suas tentativas de controlar e manipular populações", declarou.
Segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para a Ciência, Cultura e Educação (UNESCO), divulgado esta semana, 62 jornalistas foram assassinados no ano passado.
Segundo o mesmo documento, publicado no do Dia Internacional para Acabar com a Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, 02 de novembro, cerca 1.200 jornalistas foram assassinados no cumprimento do seu dever ascende entre 2006 e 2020, com nove em cada dez casos a ficarem impunes.
Nos últimos cinco anos, o maior número de assassinatos de jornalistas, 61 casos, foi registado no México, país considerado um dos mais perigosos do mundo para a profissão.
Além de defender uma imprensa livre em todo o mundo para exigir mais transparência dos governos e dos líderes políticos, Power, antiga representante permanente dos EUA junto da Organização das Nações Unidas (ONU), entre 2013 e 2017, pediu também mais meios para combater "o flagelo da corrupção global", que é um "fomento da autocracia".
Samantha Power adiantou que na Cimeira das Democracias, que se realizará em formato virtual a partir de Washington, em 09 e 10 de dezembro, a USAID vai lançar diversas iniciativas para o reforço democrático e combate à corrupção.