Fundadora da 'One Earth' diz que tecnologia já permite combater alterações climáticas
A fundadora da organização 'One Earth' defendeu hoje que a tecnologia disponível já permite combater as alterações climáticas através de soluções assentes na natureza e considerou que não há justificação para esperar por "falsas soluções tecnológicas".
"Conseguimos resolver as alterações climáticas, conseguimos alcançar um mundo em que a temperatura média não aumenta mais do que 1,5ºC e até pode baixar desse número. E podemos fazê-lo com tecnologias existentes e soluções assentes na natureza", afirmou Justin Winters.
Falando sobre a criação da 'One Earth' durante uma conversa sobre o papel da tecnologia e das comunidades no combate à crise climática, no último dia da Web Summit, em Lisboa, Justin Winters relatou que no percurso até à criação daquela organização filantrópica, dedicada ao combate das alterações climáticas, descobriu um problema na abordagem à crise.
"Na altura, procuramos soluções na ciência e quando olhamos para os modelos climáticos existentes percebemos que, de facto, ninguém desenhou um modelo climático que, por defeito, não dependesse de falsas soluções tecnológicas", explicou.
Para a responsável, não há justificação para esperar por essas soluções que ainda não têm validação científica ou não existem sequer, porque a tecnologia atual já permite abordar os principais problemas.
"Sei que, provavelmente, isto não é muito entusiasmante para uma plateia ávida por tecnologias inovadoras, mas a verdade é que temos as soluções agora", reforçou, apontando três mudanças urgentes.
Energias 100% renováveis, proteger e restaurar 50% dos terrenos e oceanos de todo o mundo e transitar de formas de agricultura industriais e tóxicas para uma agricultura regenerativa são soluções que terão um impacto tremendo, que já são possíveis e que poderão ser aceleradas com o recurso a novas tecnologias.
"Tudo isto é fazível e acho que é importante que as pessoas saibam isso, porque muitas pessoas sentem que todo o poder para trazer mudanças está nas mãos dos governos e, por isso, atiram a toalha ao chão. Não é verdade, nós podemos fazê-lo", reiterou.
A propósito do papel das comunidades, Justin Winters referiu um projeto desenvolvido pela 'One Earth' para a criação da Rede de Segurança Global ('Global Safety Net' no original), um mapa das zonas consideradas vitais para a natureza e para a humanidade e que, por isso, têm de ser protegidas.
No total, representam cerca de 50% da totalidade dos terrenos do planeta e incluem as áreas já protegidas pelos governos (15,4%), locais habitados por espécies raras (2,3%), áreas ricas em termos de biodiversidade (6,0%), paisagens habitadas por grandes mamíferos (6,3%), regiões selvagens intactas (16,0%) e áreas com condições para a estabilização do clima (4,7%).
Este mapa é a primeira versão do trabalho da 'One Earth' para a proteção da superfície terrestre, um rascunho, explicou Justin Winters, que está agora a ser melhorado. Mas já resultou numa aplicação para que as pessoas possam conhecer a sua região biogeográfica.
"A aplicação foi criada para que as pessoas possam pesquisar o seu país e perceber de que forma é que a região em que se inserem tem de ser protegida e recuperada", explicou, convidado as pessoas a explorar, conhecer melhor o contexto envolvente e conectarem-se com a natureza.
"Acreditamos mesmo que nem todo o poder reside no governo. Muito reside em nós mesmos", concluiu.
A Web Summit está a decorrer desde segunda-feira em Lisboa, em modo presencial, depois de a última edição ter sido 'online' e a organização esperava cerca de 40 mil participantes, segundo revelou, em setembro, Paddy Cosgrave, presidente executivo da cimeira.
A comediante Amy Poehler, o presidente da Microsoft Brad Smith, a comissária europeia Margrethe Vestager e o jogador de futebol Gerard Pique são alguns dos nomes que se juntam aos mais de 1.000 oradores, às cerca de 1.250 'startups', 1.500 jornalistas e mais de 700 investidores, numa cimeira na qual estão a ser discutidos temas como tecnologia e sociedade, entre outros, de acordo com a organização.
Apesar do número previsto de visitantes ser este ano cerca de menos 30 mil do que na última edição presencial, em 2019, as autoridades consideram que se trata do "maior evento de 2021" a ter lugar em Lisboa.