Crónicas

Do Mundo para a Madeira ao sabor de um “até já”

Tenham orgulho nesta terra porque quanto mais mundo eu percorro mais sinto que fico com ausências para lhe devolver.

Escrevi o meu primeiro texto neste espaço já lá vão mais de 4 anos. Decidi agora fazer uma pausa por motivos profissionais. Na altura chamei-lhe “Da Madeira para o Mundo”. Referi que começava ali um caminho em forma de crónicas, onde a ideia seria passar aquilo que sentia na visão de quem vinha de fora, feita de sonhos e de desprendimento mas também de um amor que sentia e sinto pela Madeira. Numa era em que tudo acontece demasiado rápido, em que por vezes falta tempo para pensar ou refletir e num País onde se vai perdendo aos poucos o hábito pela leitura, é fundamental que quem escreve tenha algo para contar e que o consiga transformar em imagens. Ensinaram-me isso quando comecei a escrever num jornal há mais de 10 anos. Se quero dizer que a minha infância foi boa tenho que o descrever, para que quem lê se consiga transportar para aquele momento, naquela época. Não basta um sim ou um não. Foi boa pelos intervalos no pátio da escola, a jogar ao berlinde com os meus amigos ou pelos fins de tarde em que me fechava na solarenga salinha de casa da minha avó, cheio de mantas que cobriam o chão frio, enquanto bebia um café fraquinho e comia umas fatias de pão caseiro, acabado de sair do forno, em que a manteiga derretia por si só de tão quente que estava.

Ao contrário de muitos outros que se dizem a marimbar para o que pensam da sua escrita eu dou muito valor a quem me lê. Acredito que todos escrevemos para ser lidos, de outra forma não o publicávamos. Da mesma forma que a nossa expectativa é que sejamos interessantes o suficiente para cativar e para despertar nos outros uma reação. Seja ela boa ou má. Não há nada pior para quem escreve do que cair no poço fundo da indiferença. E neste jornal temos a sorte de ter leitores interessados, que se dão ao trabalho de responder, de enviar emails e mensagens. Uns gostarão mais outros menos, há quem se identifique mais com umas do que com outras. Normal. Importante é percebermos que escrever com prazer é um serviço que se presta, que umas vezes presta, outras nem tanto, mas que não nos devemos servir dela para autopromoção, pessoal, política ou empresarial mas sim para dar a nossa visão do Mundo e do que nos rodeia. Foi sempre isso que tentei fazer. Eu acredito que só uma opinião sincera e convicta pode chamar a atenção mesmo que por vezes não seja independente. Temos os nossos gostos e as nossas preferências. Essa coisa da independência tem muito que se lhe diga. Devemos sempre assumir as nossas posições e as nossas intenções.

Nestes 4 anos vim cá muitas vezes. Percorri a ilha “de uma ponta a outra” e conheci pessoas fantásticas que me acompanharam por diversas aventuras. Fiz muitos amigos, pessoas de quem gosto genuinamente. Acredito que quem cá vive e viveu sempre não tenha a capacidade de percepção e o enquadramento de quem vem de fora, do quanto é bom estar aqui. Tendemos sempre a tirar valor ao dia a dia. Ao que nos é oferecido. Mas digo-vos eu que é uma ilha mágica, que apaixona à primeira, cheio de cantos e recantos únicos, das paisagens de cortar a respiração, à temperatura sempre amena, da diversidade das flores e plantas aos sabores das frutas. A dicotomia entre a serra e o mar, o Porto Santo e a Madeira, a saudade e a animação. Digo-vos eu que há poucos lugares onde tenha estado que sejam assim tão especiais na sua simplicidade. Que conjuguem tão bem a qualidade de vida e as suas tradições. Que consigam olhar para o futuro com respeito pelo passado. Nem tudo é perfeito, claro que não, mas digam-me um sítio onde é? Tenham orgulho nesta terra porque quanto mais mundo eu percorro mais sinto que fico com ausências para lhe devolver.

Quero agradecer a esta redação fantástica que sempre teve paciência para os meus escritos tardios e sempre respeitou tudo aquilo que tive para lhe oferecer. Mesmo quando de forma generalista pus em causa as intenções do jornalismo que grassa pelo mundo, sempre tive neste espaço o respeito pelo que quis dizer e pelas minhas opiniões. Não é nada fácil apresentar todos os dias um jornal tão rico de conteúdo e tão cheio de valores, quando muitas vezes o mais fácil numa ilha em que toda a gente se conhece seria sucumbir perante interesses e pressões. Agradeço sobretudo ao seu diretor Ricardo Oliveira, não pela amizade boa que criámos (que essa não se agradece), mas pela oportunidade que me deu de fazer uma das coisas que mais prazer me dá. Escrever. E sabe tão melhor quando o fazemos num sítio onde nos sentimos bem e do qual temos um imenso orgulho de fazer parte. Disse um dia, num artigo seu, que eu escrevia sobre o lado B da Vida. Num tempo em que riscamos tanto o lado A nas redes sociais e nas televisões, que esse lado B, dos sonhos, da magia e da ilusão se mantenham sempre em mim e em vocês. Não é um até sempre, é só um até já. Como disse o saudoso Sousa Veloso, famoso apresentador da TV Rural “e assim me despeço, com consideração e amizade, até ao próximo programa”!