Mergulhadores dos Estados Unidos pilham galeão submerso na ilha cabo-verdiana do Maio
Os mergulhadores denunciados a "pilhar" bens no fundo do mar na ilha cabo-verdiana do Maio são dos Estados Unidos da América, informou fonte do Instituto do Património Cultural (IPC), confirmando investidas num galeão do século XVII submerso.
Fonte do IPC avançou à Lusa que os mergulhadores denunciados são dos Estados Unidos da América, mas sem confirmar os valores dos bens, nem quando tudo começou ou se os bens foram recuperados.
Entretanto, a mesma fonte disse que o processo está ainda em investigação e mais pormenores serão anunciados posteriormente numa nova nota à comunicação social.
Em declarações à imprensa, o presidente do IPC, Jair Fernandes, disse que há também mergulhadores cabo-verdianos que estão à procura de restos de um galeão do século XVII submerso naquela ilha.
"Isto é extremamente preocupante, considerando o esforço que o país tem feito", salientou o mesmo responsável, que avançou também pirataria do género em localidades costeiras da ilha da Boa Vista e na Cidade Velha, em Santiago.
Em comunicado, o IPC denunciou que mergulhadores estrangeiros estão a "pilhar" bens de valor patrimonial no fundo do mar junto à ilha do Maio, situação já participada às autoridades policiais.
A instituição estatal cabo-verdiana com atribuições na defesa, preservação e valorização do património cultural subaquático refere que tem recebido nos últimos dias "denúncias dos vários parceiros, entre eles pescadores e comunidade costeira da ilha do Maio" sobre esta situação.
"Um grupo de mergulhadores estrangeiros estão, de forma ilegal e sem autorização do Estado de Cabo Verde, a pilharem e a roubarem bens com valor patrimoniais que se encontram no fundo do mar da referida ilha", lê-se na nota.
O documento acrescenta que a situação já foi alvo de uma participação às autoridades nacionais, tendo o IPC solicitado "a colaboração e atuação" da Polícia Marítima, Guarda Costeira e da própria Polícia Judiciária, "no sentido de haver uma atuação mais célere possível, para evitar a destruição e pilhagem do património subaquático da República de Cabo Verde".
Cabo Verde tem ao largo da Cidade Velha, ilha de Santiago, e da ilha do Maio alguns dos principais locais de afundamento de navios ao longo de séculos e ratificou em 2019 a Convenção da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) para a Salvaguarda do Património Cultural Subaquático de 2001, tendo ainda em curso o processo de ratificação da Convenção Contra o tráfico Ilícito dos Bens Culturais também da UNESCO.
Através desta ratificação, Cabo Verde continua os seus esforços para a preservação do seu património cultural subaquático, na criação da comissão nacional para a proteção e valorização do património cultural subaquático, na formação dos técnicos nacionais nesta matéria e na sensibilização das comunidades costeiras, bem como no apetrechamento do Museu de Arqueologia da Praia.
O IPC recorda no comunicado que no âmbito das suas atribuições tem vindo a "estabelecer protocolos e ações, com foco na salvaguarda dos bens culturais subaquáticos".
É o caso do projeto "Margullar", desenvolvido em parceria com as ilhas da Macaronésia (Madeira, Açores, Canárias e Cabo Verde) e que visa articular o Património e Turismo através da realização de trabalhos de arqueologia subaquática para a preservação e conservação do património marinho, "para a sua posterior valorização e aproveitamento, com o objetivo de melhorar a atratividade e promoção do turismo nas regiões da Macaronésia".
"Com base na recolha de dados arqueológicos nas áreas de trabalho identificadas, o objetivo do projeto é valorizar estes sítios, conseguindo uma gestão ou proteção integral dos mesmos e por sua vez, comunicar e sensibilizar o público do património arqueológico da Macaronésia", explica o IPC.
Outro dos projetos em curso nesta área em Cabo Verde é o "Concha", desenvolvido em parceria com a Universidade Nova de Lisboa e que tem como principal objetivo "abordar as diferentes formas como as cidades portuárias se desenvolveram em torno do Atlântico do final do século 15 ao início do século 18 em relação aos diferentes ambientes ecológicos e económicos globais, regionais e locais".
"É um projeto multidisciplinar que emprega metodologias de diferentes disciplinas para atender aos seus objetivos principais. Baseando-se na história, história ambiental, história da arte, literatura, arqueologia terrestre e subaquática, humanidades digitais, comunicação científica e consciência ambiental, esta é uma abordagem muito nova de construir diálogos entre disciplinas que normalmente não se cruzam", conclui o IPC.