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Acusado de matar manifestantes antirracistas nos EUA "agiu em legítima defesa"

Foto Shutterstock/Aaron of L.A. Photography
Foto Shutterstock/Aaron of L.A. Photography

O advogado do jovem branco acusado de assassínio por ter matado a tiro duas pessoas durante confrontos à margem das grandes manifestações antirracistas de agosto de 2020, nos Estados Unidos, disse que o seu cliente "agiu em legítima defesa".

"Senhoras e senhores, ele [Kyle Rittenhouse] agiu em legítima defesa. As provas vão mostrar que agiu de forma razoável, nas circunstâncias daquela noite, depois de ter sido atacado pelo senhor [Joseph] Rosenbaum", disse o advogado do arguido, Mark Richards.

Na altura com 17 anos, Kyle Rittenhouse juntou-se a homens armados que se apresentavam como "grupos de vigilantes" na ação com que diziam proteger a cidade de Kenosha, no Estado do Wisconsin, abalada por tumultos após uma intervenção policial abusiva.

Natural do Estado vizinho do Illinois e munido de uma pistola semiautomática, Rittenhouse abriu fogo em circunstâncias confusas, matando dois homens e ferindo um terceiro. Todas as suas vítimas são brancas.

Detido pouco depois, foi acusado de assassinato e libertado sob uma fiança de dois milhões de dólares (cerca de 1,73 milhões de euros). Declara-se inocente e pode vir a ser condenado a prisão perpétua.

Segundo Mark Richards, "Kyle Rittenhouse não queria um conflito, não procurava problemas", mas Joseph Rosenbaum "acendeu o pavio" ao atacar o seu cliente.

"Provavelmente penso que lhe poderia tirar a arma. Enganou-se, Kyle Rittenhouse protegeu-se e protegeu a arma", prosseguiu.

Por seu turno, o procurador Thomas Binger referiu que, no terceiro dia de tumultos, "Kyle Rittenhouse muniu-se de uma espingarda semiautomática AR-15 carregada e matou Joseph Rosenbaum, um homem desarmado, que morreu com uma bala nas costas".

Após os primeiros tiros, "outros indivíduos atacaram-no na rua como um animal" e novamente o jovem defendeu-se, adiantou Mark Richards, para justificar a segunda morte e o ferido.

Já o procurador lembrou que Kyle Rittenhouse poderia ter voltado para casa, mas decidiu "aventurar-se no meio da multidão, ultrapassar alinha erguida pela polícia e ir em direção a um grupo de manifestantes hostis".

Em seguida, foi Rittenhouse quem "iniciou o confronto" com Jacob Rosenbaum, antes que este o perseguisse, acrescentou. Os outros, segundo o procurador, tentaram desarmá-lo.

A audiência de testemunhas e a apresentação de provas devem durar agora duas ou três semanas antes de o júri proferir o seu veredicto.

O processo de Kyle Rittenhouse reflete as fraturas da sociedade americana relativamente ao tema das armas de fogo e do movimento 'Black Lives Matter'.

O julgamento arrancou na manhã de segunda-feira, com a seleção dos 12 jurados e oito suplentes.

Localizado no centro da cidade onde, ao longo de vários dias do ano passado, se concentraram centenas de manifestantes, o tribunal está a ser protegido por fortes medidas de segurança.

Durante as alegações, os procuradores deverão retratar Kyle Rittenhouse como um extremista de direita, que foi a Kenosha com o objetivo de confrontar os manifestantes antirracistas.

Já os seus advogados deverão alegar o direito à legítima defesa, afirmando que Kyle disparou para se proteger dos desordeiros que o perseguiam.