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M.E.S.

Money, Ego, Sex, em sigla, MEX (Dinheiro, Ego, Sexo). Segundo a doutrina comummente aceite pelos serviços de informação, são as três grandes motivações que levam à deslealdade e à traição. Para os amadores da História e das estórias de espionagem, esta sistematização não é novidade. A omnipresente ganância, uns brios ofendidos, a pulsão desenfreada, cada uma por si, ou combinados, dão o caldo de cultura onde se alimentam os germes da infidelidade.

Decerto se tomam medidas para prevenir tais malefícios. Qualquer agente, civil ou militar, que tenha de lidar com matérias sensíveis, é escrutinado, analisado e examinado, como forma de prevenir desvios, e finalmente credenciado, ou seja, autorizado a manusear materiais classificados.

Os militares prestam o seu Juramento de Bandeira, que os vincula a um conjunto de obrigações.

Será que isto garante, a 100%, a desejada fidelidade? Nem por isso. Decerto se lembram do caso do funcionário português que foi apanhado a passar informações aos russos, depois de ter passado por todo este crivo.

Muito mais mediáticos têm sido os casos americanos. Ainda recentemente, foi apanhado um casal que passava informação sensível no domínio nuclear aos russos. Ou de uma parelha de sargentos, pai e filho, que vendeu os códigos de comunicação à então União Soviética.

Em qualquer destes casos, qualquer ideologia ou motivação altruísta andou ausente. O money foi o grande incentivo, embora tivesse talvez servido para alimentar as outras duas motivações.

O curioso é que os serviços de informação se dedicaram afanosamente a espiolhar eventuais militâncias políticas, inclusivamente nos campus das Universidades, e ninguém viu que o padrão de vida das criaturas não condizia com os vencimentos ou rendimentos conhecidos. Ora, como diz o povo, “quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem”…

Entre nós, as cabeças bem pensantes decidiram consensualmente que a profissionalização das Forças Armadas seria, entre outras coisas, uma garantia da tal fidelidade institucional. O recente caso “Miríade” veio pôr em causa tais certezas.

Não porque não se tenha obtido esse desiderato, mas porque o Mafarrico continua à solta e o MEX não foi extinto. E, voltando à sabedoria popular, “a ocasião faz o ladrão”.

A única coisa que o processo de acreditação garante é a mão pesada da Lei, segundo o princípio da responsabilidade acrescida.

Responsabilidade que é sempre individual, num país onde reinem a legalidade e legitimidade. Portanto, falar no “gangue dos Comandos” tem a mesma falta de lógica que invocar o “bando dos advogados”, a “camarilha dos padres” ou de outras profissões.

Juntam-se nestas generalizações três condimentos. Comodidade, pelo chamado “raciocínio por gavetas”: os comandos, os padres, os funcionários, são “assim”. Ancestralidade, porque ficou um resquício de outras eras, em que um pensava por todos, e todos pagavam por um. Desonestidade, porque todos os meios são bons quando se pretende atingir um fim.