Crónicas

O Juche e o Chuche

Se o Juche significa “autossuficiência”, o Chuche tem mais a ver com reclamar e pedinchar, como só o sabem fazer os pelintras

1. Disco: “Married”, dos Kills Birds, é uma viagem aos meus tempos do “head banging”. Instrumentalmente muito potentes, os Kills, assentam, como uma luva, na voz de Nina Ljeti. Punk, grunge, noise-rock, encontram-se em cada esquina. Tudo muito bem arranjado, tudo muito bem encaixado.

2. Livro: para mim, a “Black Friday” é sempre um Natal antecipado. Religiosamente, desço à cidade, entro na minha livraria de eleição… e desgraço-me. Este ano foram: o “Metrópoles”, de Ben Wilson,; “A História da China”, de Michael Wood; “2034”, de Elliot Ackerman e James Stavridis; “Hegemonia”, de Jaime Nogueira Pinto; “O Poder da Geografia”, de Tim Marshall e “A Arma Perfeita”, de David E. Sanger. Depois, deixo por aqui as apreciações sobre as leituras.

3. O que escrevo a seguir é um claro exagero. Vejam-no como um exercício hiperbólico.

4. Os norte-coreanos têm o “Juche” como sustento ideológico, a nós, madeirenses, querem impingir-nos o “Chuche”.

Na Coreia do Norte prevalece o Kimilsungismo, aqui temos o Albuquerquismo, fraco herdeiro do Jardinismo. Ambos não passam de “achismos”, mas chateiam muito, mesmo valendo muito pouco.

Se o Juche significa “autossuficiência”, o Chuche tem mais a ver com reclamar e pedinchar, como só o sabem fazer os pelintras.

O Juche tenta e não consegue ser o que significa. O Chuche alimenta os mesmos de sempre.

Um e outro, adoram inimigos externos de estimação. Para o Juche, o inimigo é o resto do mundo. Para o Chuche, é qualquer coisa que mexa no sentido contrário aos seus interesses pequeninos.

No Juche eles têm mísseis nucleares, mas aqui o Chuche fica a ganhar, pois tem o Lopes da Fonseca.

O Juche arroga-se a ser uma filosofia, já o Chuche é uma espécie de mamografia.

Tanto o Juche como o Chuche baseiam-se na ideia de que o homem é o mestre de tudo e tudo decide. Porém, aqui não falamos do HOMEM, mas de homens muito específicos: a dinastia Kim de um lado, e o do outro uma estirpe indefinível onde predomina o xupacuzismo.

O Juche e o Chuche são o caminho correto. Melhor: são o único caminho. Um caminho cheio de buracos, precipícios, calhaus, derrocadas.

Ambos, o Juche e o Chuche, são uma espécie de Deus na terra, que nos dão líderes providenciais sem os quais não éramos nada.

O Juche é extremamente nacionalista. O Chuche é populista e tudo promete, mesmo que num dia seja o sim e no outro o seu contrário.

A economia planificada impera no Juche, no Chuche é a subsidiada. O Juche tem o Dono Daquilo Tudo e o Chuche tem os Donos Disto Tudo.

Cair em desgraça no Juche é muito mais perigoso do que no Chuche. Num, acaba-se na morte física, no outro, nas tentativas de assassinato de carácter.

Ambos adoram o culto da personalidade do líder. Sem as suas lideranças, o futuro só oferece desgraça. No Juche o grande líder é divino, no Chuche é devido. Ambos têm o ar do enfado de quem nos faz o favor de liderar.

No Juche os retratos do líder estão por todo o lado. No Chuche é a comunicação social que o promove, seja numa visita a uma empresa de pneus ou na inauguração de uma qualquer loja de lollipops, que esteja à mão.

O Juche e o Chuche estão-se a marimbar para os direitos das pessoas. O que sabem, sabem por todos. E mais nada.

Tenho a certeza que os norte-coreanos estão fartos do Juche.

O Chuche, que não é nem de perto, nem de longe, tão mau, causa-me um enfado cada vez maior.

5. Não tenho pachorra para negacionismos. Aceito quem não se queira vacinar, porque apresenta razões que para si são válidas, apoiando-se em alguns estudos científicos (em muito menor quantidade em relação aos que apoiam a vacinação) e no facto de o tempo de testagem ter sido tão curto - o que, sendo verdade, tem a “nuance” de a ciência não ser hoje o mesmo que era há 20 ou 30 anos, e haver uma base que já estava feita e foi adaptada.

Não compro argumentos como a treta do 5G, do microchip do Bill Gates, do autismo, de ficarmos magnetizados, da alteração do ADN, que vai servir para nos tornar em robôs ou que tudo isto foi arquitectado para matar milhões.

Mas andam aí outros negacionistas. Os que defendem a vacinação, mas não confiam nela, deitando-se a desmentir a sua validade querendo obrigar, quem está vacinado, a fazer testes todas as semanas. Eu, que não sou negacionista, sei, porque é o que a ciência diz, que a vacina não me imuniza. Cria, isso sim, barreiras e defesas que impedem que esta se desenvolva com sintomatologia grave (e sei o que isso custa) e reduz significativamente os casos de morte. Porque não sou negacionista e, por isso, estou vacinado, também sei serem praticamente iguais as possibilidades de um vacinado transmitir a doença às de um que o não seja. A pseudo-obrigatoriedade dos testes semanais, não tem sentido nenhum. Posso testar hoje, dar negativo, apanhar o vírus amanhã e passar o resto da semana a transmiti-lo até à feitura de novo teste, passe o pequeno exagero. A Abbott, a primeira empresa a criar os testes rápidos de antigénio, reconhece que estes têm algum grau de falibilidade. Não deixa de salientar que um resultado pode dar negativo e a pessoa estar infectada com COVID-19.

Dizia-me alguém que já andou muito nas lides político-partidárias do laranjal, que tudo isto são esquemas propagandísticos. Isto é tudo um absurdo. Já é campanha para 2023. É uma situação “win-win” para o Governo Regional. Se isto piorar Albuquerque pode gabar-se de ter tomado medidas que evitaram males maiores, se isso não acontecer vai dizer que não aconteceu por tomar as medidas certas no momento certo. Fica sempre a ganhar. Agora demonstrar uma coisa ou outra com ciência, não vai acontecer.

Não sou negacionista, sou pela ciência e pela evidência. Como escreveu, e muito bem, Nelson Olim, sou, cada vez mais, um “evidencionista”. Como bem explica, em artigo publicado no seu blogue, são sete os níveis de evidência científica, sendo os que vão do 1 ao 3, os mais fiáveis.

Não há ciência sem evidência. E alguém que me recorde evidências para as medidas que foram sendo tomadas, contra a evidência de grau 1 que é o COVID19. São muito poucas. E sim, eu sei que estes tempos que vivemos são tempos novos, que diariamente são acrescentadas variáveis que alteram os pressupostos.

Mas caramba, pelo menos um pouco de cuidado no modo de comunicar, de explicar. Um pouco de cuidado para não deixar transparecer que parece que se fala para cabeças ocas, sem capacidade de discernimento.

6. Para ir a um restaurante é preciso vacina e teste. Se o teste for negativo para o COVID qual é o sentido de apresentar o certificado de vacinação?

7. Excelentes notícias as que dão conta da base operacional que a Ryanair vai montar na Madeira. Com voos para dez destinos vão, com certeza, mexer com a lógica deste mercado retorcido, com este oligopólio entre a TAP e a Easyjet.

Parabéns a quem conseguiu começasse a voar de e para cá: Governo Regional, Associação de Promoção da Madeira, Ministério da Economia, Turismo de Portugal, ANA e Vinci.

8. Na passada 6ª feira, fez quatro anos que tive a honra de ajudar a fundar um partido. Eu e mais 90 pessoas descomprometidas e unidas em volta de uma ideia: o liberalismo. Quatro anos depois vejam onde conseguimos chegar. Parabéns a todos os membros da Iniciativa Liberal, parabéns a todos os portugueses que entendem que a democracia e a liberdade permitem todos os pensares.

Viva o liberalismo.